sexta-feira, 30 de outubro de 2009

Fotógrafo francês cria 'dia-a-dia em miniatura'

fonte BBC Brasil

Um artista francês utiliza bonecos de plástico em miniatura para reproduzir cenas da vida cotidiana.

O fotógrafo e designer gráfico Vincent Bousserez diz que começou a tirar as fotos da série "Plastic Life" (ou "vida plástica", em tradução livre) depois de se encantar com uma loja de miniaturas que começou a frequentar levado por um amigo.

"Essas fotos em "close" eliminam a distância entre o olho do espectador e a cena que ele descobre", descreveu Bousserez à BBC Brasil.

"Ele entra em um mundo estranhamente similar ao dele e diferente ao mesmo tempo. Cada foto se torna um roteiro poético e bem-humorado que pode ser interpretado como a denúncia dos vícios de nosso tempo."

Ele diz que a ideias das fotos vêm espontaneamente. "Na maioria das vezes, eu compro esses bonequinhos sem pensar em uma cena. Eu simplesmente os carrego comigo. E quando estou em algum lugar e vejo algo, a inspiração vem naturalmente", conta.

Ao criar, o artista se compara com "uma criança". "Eu interrompo a conversa, apanho esta ou aquela mobília que descobri, pego os bonecos e componho minha natureza morta. Adapto a luz e então tiro as fotos", afirma.

"É espontâneo, natural, baseado no humor. Não quero pensar muito e elaborar algo muito profundo. Prefiro deixar minha imaginação fluir, e quando uma cena humorística me vem à mente, eu não hesito, não espero, organizo minhas coisas e a torno real!"

Desde que começou a ser publicada em 2008, "Plastic Life" foi exibida em diversas revistas e jornais franceses, e em galerias em Paris e Geneva - incluindo a Bailly Contemporain e Charly Bailly, que representam o artista. Bousserez diz que está agora à procura de editoras dispostas a transformar a obra em livro.

Hoje diretor de uma agência de propaganda, o parisiense nascido em 1973 diz que "fotografia e design gráfico pessoal têm um grande espaço na minha vida: toda noite, todo dia antes de ir para o trabalho, e aos fins de semanas" e que "às vezes, se não tivesse de dormir, usaria as noites para criar mais".

"Mas agora não posso continuar mais, pois há cinco meses sou pai e quero dedicar mais tempo à minha filha Lucie e minha noiva, Bénédicte."

Para ver outras imagens do fotógrafo cliquem aqui



Curso Gratuito de Animação/ Desenho Animado

Ministério da Cultura oferece curso gratuito de animação 2D à distancia

COMO FUNCIONA

O curso de formação de animadores a distância AnimaEdu utiliza exclusivamente o sistema de ensino baseado na interação virtual entre aluno e tutor, através da Internet.

A primeira turma do projeto funcionará de maneira experimental, com alunos selecionados a partir do pré-cadastro no site e de seu potencial talento para animação. Com essa primeira experiência, o projeto sofrerá ajustes e só então será aberto para o público em geral. Este primeiro grupo começará o curso em novembro de 2009 e irá concluí-lo até janeiro de 2010.

As próximas turmas deverão começar a partir de março de 2010. Os interessados devem preencher o pré-cadastro para futuro contato da nossa equipe de apoio.

Os alunos matriculados no curso têm acesso a um ambiente restrito no qual podem estudar o material didático, enviar exercícios para seus tutores, consultar o cronograma do curso e interagir com outros usuários do sistema, através de um fórum de discussões interno.

O curso é dividido em módulos que abordam aspectos da animação. A partir do estudo desse material, o aluno realiza os exercícios do módulo e os envia a seu tutor, que avaliará o nível de aprendizagem do aluno, retornando os exercícios através do próprio sistema, com comentários. Dependendo do nível de aprendizado do conteúdo pelo aluno, ele poderá ou não ser solicitado a refazer algum dos exercícios. Se tiver fixado o tema e realizado satisfatoriamente o exercício pedido, ele passa ao próximo módulo do curso e assim segue, até o final.

O contato aluno-tutor é possível durante todo o curso, através da página de Recados, do Fórum e das correções dos exercícios. Além disso, supervisionando o trabalho dos tutores há os coordenadores, que são responsáveis por acompanhar o bom andamento das atividades propostas. Caso tenha algum problema com seu tutor, entre em contato com seu coordenador. Ele terá prazer em resolver imediatamente qualquer dúvida.

No Fórum você também poderá trocar idéias com outros alunos que estejam cursando a formação no mesmo período que você. Como o sistema de ensino do AnimaEdu é individualizado, ou seja, cada aluno tem um tutor, não existe aqui o conceito de usual de "turma". No entanto, como a troca de experiências, dicas e informações é muito rica em nosso meio, estimulamos os alunos a estabelecer contato sempre que possível com seus colegas, seja através do Fórum ou diretramente pela seção Recados.

Num segundo momento do projeto, o site deverá ter uma seção de portfólio para que os ex-alunos possam expor seus trabalhos, tanto aqueles realizados durante o curso, como fora dele. Com o tempo, esperamos que o AnimaEdu se transforme em uma porta de entrada desses novos profissionais no mercado.

Para a realização dos exercícios dos módulos de animação, as ferramentas a serem utilizadas são o software livre Pencil 2D, que é disponibilizado gratuitamente no site: www.pencil-animation.org, um scanner para digitalização dos exercícios dos primeiros módulos e um tablet, que é uma interface digital para desenho, sem a necessidade do uso do papel. A instalação do programa e do tablet é bastante simples. Para os alunos selecionados, nas seções restritas, há manuais específicos para isso.

Maiores informações cliquem aqui

Inté mais e bom curso para todos

quinta-feira, 29 de outubro de 2009

Idéias...

"As idéias que possuimos são capazes de nos possuir"

Edgar Morrin

sábado, 24 de outubro de 2009

Sobre 24 de Outubro...

Sabiam que muita coisa já aconteceu neste dia? Vamos à uma listinha básica:

- Em 1360 é ratificado o Tratado de Brétigny, um dos marcos do fim do primeiro período da Guerra dos Cem Anos;

- No Brasil, em 1930 é deposto o presidente Washington Luiz, ponto culminante da Revolução de 1930, conduzindo Getúlio Vargas ao poder;

- Em 1945 a Organização das Nações Unidas (ONU) é fundada oficialmente, depois da assinatura da sua Carta em São Francisco, Califórnia. O Brasil é um dos primeiros signatários;

- Como gosto de quadrinhos, não posso deixar passar que neste dia em 1915 nasceu Bob Kane, nada mais nada menos que o criador do Batman;

- Além disso em 1924 nascia Aziz Ab'Sáber, importantíssimo geógrafo brasileio;

- Enquanto isso em 1932 era Ziraldo, quadrinista, chargista e escritor, quem vinha à esse mundo.

- Globalmente em 2008 é marcada como a "Sexta-feira negra", início da Crise do Crédito a maior crise econômica mundial desde a Grande Depressão./

Fonte: Wikipedia


Eeee dia agitado esse não???rsrsrs
Inté mais pessoal

segunda-feira, 19 de outubro de 2009

Curta no Blog - Galinha ao Molho Pardo

Galinha ao Molho Pardo
de Feli Coelho (08 min, 2007)

O menino Fernando vive aventuras ao tentar salvar a vida de uma galinha que seria preparada ao Molho Pardo pela cozinheira Alzira, para o almoço de domingo. Filme baseado em conto do livro "O menino no Espelho" de Fernando Sabino.



O engraçado é que a primeira vez que tive contato com este curta foi numa sessão especial lá no Cineclube Lanterna Mágica, onde acompanhamos o filme de olhos vendados, explorando os outros sentidos, tato, olfato e audição, foi uma experiencia muito interessante.

Inté mais

domingo, 18 de outubro de 2009

Por Enquanto



Mudaram as estações e nada mudou
Mas eu sei que alguma coisa aconteceu
Está tudo assim tão diferente

Se lembra quando a gente chegou um dia acreditar
Que tudo era pra sempre
Sem saber que o pra sempre, sempre acaba

Mas nada vai conseguir mudar o que ficou
Quando penso em alguém, só penso em você
E aí então estamos bem

Mesmo com tantos motivos pra deixar tudo como está
Nem desistir, nem tentar
Agora tanto faz, estamos indo de volta pra casa

Mesmo com tantos motivos pra deixar tudo como está
Nem desistir, nem tentar
Agora tanto faz, estamos indo de volta pra casa

sexta-feira, 16 de outubro de 2009

quinta-feira, 15 de outubro de 2009

Vale Cultura

Câmara aprova criação do Vale-Cultura; projeto vai ao Senado

Claudia Andrade e Piero Locatelli - Do UOL Notícias
Em Brasília

A Câmara dos Deputados aprovou nesta quarta-feira (14) o projeto que cria o Vale-Cultura, crédito de R$ 50 que deverá ser disponibilizado a trabalhadores que ganham até cinco salários mínimos (R$ 2.325,00). A proposta, elaborada pelo Executivo, terá ainda de ser analisada pelo Senado Federal antes de ser sancionada.

A relatora do projeto, deputada Manuela D'Avilla (PCdoB-RS), ampliou a concessão do benefício prevista pelo Executivo. O projeto aprovado pela Câmara determina também a obrigatoriedade de fornecimento do crédito a todos os trabalhadores portadores de deficiência que recebam até sete salários mínimos por mês (R$ 3.255,00) e aos estagiários.

Uma emenda apresentada pelo PPS, que estendia o vale aos aposentados do INSS, também foi aprovada. O benefício a eles, entretanto, fica restrito a R$ 30.

Servidores públicos federais que ganhem até cinco salários mínimos também terão direito ao benefício, que será bancado pela União. A proposta autoriza Estados, Distrito Federal e municípios a fornecer o Vale-Cultura aos seus servidores públicos, nos termos das leis de cada ente federado e de acordo com seu orçamento.

No setor privado, o benefício será concedido apenas a funcionários de grandes empresas, que não fazem parte do Simples e que tenham optado pelo Programa de Cultura do Trabalhador, também instituído pelo projeto.

Os beneficiados poderão ter descontado do salário até 10% do valor do Vale-Cultura, ou seja, até R$ 5 mensais. O Vale-Cultura deverá ser disponibilizado por meio de um cartão magnético, com o valor expresso em moeda corrente.

Segundo a proposta, o crédito a ser concedido deverá possibilitar o acesso do trabalhador a produtos e serviços culturais, estimular a visitação a estabelecimentos culturais e artísticos e incentivar o acesso a eventos e espetáculos.

Quem receber mais de cinco salários mínimos por mês também poderá ser beneficiado, desde que todos os empregados que estejam dentro da faixa de renda estabelecida já tenham sido atendidos. Para quem ganha acima do limite previsto no projeto, o desconto poderá ser maior, variando de 20% a 90%, de acordo com a faixa salarial.

As empresas poderão deduzir do imposto de renda pessoa jurídica o valor gasto com o benefício, respeitado o limite de 1% do imposto de renda devido. Se todos os empregados que receberem até cinco salários mínimos forem atendidos e mesmo assim a empresa ainda não tiver atingido a dedução de 1%, poderão estender o benefício a dependentes dos trabalhadores que já recebem o Vale-Cultura.

O benefício cultural não se incorpora ao salário, ou seja, não há incidência de contribuição previdenciária ou do FGTS (Fundo de Garantia do Tempo de Serviço) sobre ele.

O projeto prevê ainda punições às empresas que desviarem a finalidade do benefício. Elas estarão sujeitas ao cancelamento da inscrição no programa, aplicação de multa, perda ou suspensão de financiamento em estabelecimentos oficiais de crédito durante dois anos, além de proibição de usufruir de benefícios fiscais, pelo mesmo período.

quarta-feira, 14 de outubro de 2009

CONHECIMENTO REBELDE E ENQUADRADO - Pedro Demo (parte 3)

Leia também a parte 1 e a parte 2

V. FUTUROS DA AUTORIA

A wikipedia mostra, apesar de sua história tão curta e também estrondosa, que a autoria já não é propriedade restrita a algumas cabeças privilegiadas. Na prática, é acessível a todos, mesmo na maior simplicidade, porque qualquer pessoa simples também é “autora” de sua vida. Quanto mais a autoria se fecha em certas cabeças, mais se torna argumento de autoridade, maculando seu berço embalado pela liberdade de expressão. Nesta rota, um dos serviços mais importantes da wikipedia é a popularização do “espírito científico”, considerado uma das habilidades do século XXI. Saber lidar com método científico torna-se desafio geral, como parte da formação geral das pessoas. O argumento mais à vista é sempre o do mercado: para poder competir melhor. Mas, do ponto de vista da educação, o argumento crucial é formativo, divisando aí não só a questão do conhecimento, mas principalmente da cidadania. A esfera pública não pode ser ocupada apenas pelo especialista que sabe técnicas sofisticadas da argumentação, mas por todos (“todos podem editar”). Com razão, Fraser (1992) questionou a concepção de esfera pública da Habermas, excessivamente eurocêntrica e patriarcal, refletindo, em parte, a democracia elitista e restrita grega.

O’Neil (2009) apontou para a predominância ainda masculina nos ambientes virtuais, em especial nos mais requintados, ainda que isto esteja mudando rapidamente. Neste sentido, “forças arcaicas” continuam jogando pesado, sem falar nos intermináveis vícios das democracias atuais e por isso colocadas em cheque pela geração net (Tapscott, 2009. Winograd & Hais, 2008). Há um caminho enorme a ser andado até podermos equilibrar a “igualdade de oportunidades”. No entanto, parece claro que a wikipedia tem sido um farol nesta escuridão. Continua sendo um fato que muitas mulheres têm sua autoria atrelado ao homem, à sombra dele, ou gravitando em torno dele. O machismo na internet é público e notório, a começar pela pornografia. No mundo dos hackers a presença feminina ainda é peregrina, bem como na alta ciência. Mas isto pode mudar e deverá mudar (Plant, 1999). A idéia, então, de que “todos podem editar” serve de alento à participação indiscriminada, por mais que regras crescentes restrinjam as liberdades. Em última instância, as mulheres poderiam construir sua própria proposta, uma enciclopédia voltada para sua proposta de sociedade e desenvolvimento e dotada de ambientes mais libertários, ainda que não dicotômica.

Ao fundo, porém, o mais importante é a percepção cada vez mais incisiva de que a energia rebelde, disruptiva do conhecimento questionador precisa tornar-se patrimônio público, o que demandaria, por sua vez, outro formato de enciclopédia: não um repositório compilado do que existe, mas uma fornalha incandescida e talvez ensandecida, de produção de conhecimento de utilidade geral. Não se poderia perder esta tradição virtual, embora presa a expertises raras/carismáticas: conhecimento é tão importante para a sociedade que não poderia ser apropriado, também porque, não sendo nenhuma mente original, o que se produz provém do que outros produziram e vão reconstruir. Idéias são tipicamente bem comum: não devem ser vendidas, nem compradas. Nem em termos pessoais a mente é propriedade, porque somos, em algum sentido, apenas usuários dela. Esta utopia vale a pena. Não deveria jamais ser sufocada em nome do mercado.

É claro que, tornando-se o conhecimento científico de alcance popular, as epistemologias mudam, por vezes, dramaticamente. A tendência será a construção de textos mais “populares”, de compreensão mais acessível, mais curtos (também para caberem na tela), multimodais (modulando argumentos visuais, acústicos, plásticos, movimentados), sugerindo que conhecimento que só alguns entendem não tem maior significado para a sociedade. É preciso sempre ver o que se ganha e perde. Ganha-se em acesso popular, uma dimensão inestimável. Perde-se verticalização, também fundamental. Daí segue que não deveríamos ver aí rivalidades apenas, mas igualmente modos alternativos de cooperação. O conhecimento tradicional, também o positivista, guarda seu lugar, porque demonstrou efetividade imponente. Mas deveria permitir ou promover alternativas de conhecimento, tanto como complemento, quanto como questionamento. É de capital relevância o surgimento de conhecimentos rivais, não só porque, na verdade, sempre existiram, mas principalmente porque o espaço do conhecimento não pode ser ocupado por grupos seletos e que, ao final, são gangues (Santos, 2004).

Pode-se, então, apreciar na wikipedia também seus efeitos pedagógicos em termos de autoria. Quando editores simplórios se metem a editar, pode ocorrer um desastre, naturalmente, mas também um exercício de elaboração com marca formativa, à medida que tomam contato com o espírito científico e, ao lado do método, praticam um tipo de cidadania que sabe argumentar. Este efeito é impagável: aprender a preferir a autoridade do argumento; perceber sua força sem força; apreciar consensos tão bem feitos que podem sempre ser refeitos; fundamentar de tal modo que o texto permaneça discutível, formal e politicamente. Acresce a isto certo tom lúdico: a turma se diverte, enquanto trabalha, e, ao final, aprecia o resultado – uma enciclopédia sem maiores credenciais, mas interessante, útil, criativa e sempre atualizada. Um resultado primoroso é aprender a “pesquisar” e a “elaborar”, num ambiente que empurra as pessoas a preferirem a autoridade do argumento. Neste sentido, pode-se ver aí uma chance imperdível de aprender bem, num espaço interativo, crítico e criativo.

Em seu tom pós-moderno, a wikipedia consagra a noção preciosa de que uma idéia só pode ser “crítica”, se for plural. Idéia única, sendo “idéia fixa”, não passa de argumento de autoridade. É recado crucial para “críticos” sem autocrítica, quando a crítica se torna senha de um povo eleito que se imagina ter o direito de massacrar teorias e práticas rivais. Olhando, por exemplo, a Escola de Frankfurt, o que mais chama a atenção não é uma proposta alinhada e unitária de “teoria crítica”, mas sua imponente diversidade (Darder et alii, 2009. Giroux, 2009. Freitag, 1986). A escola era preenchida de mentes brilhantes e indomáveis que promoviam um “projeto comum” tecido de maneira plural. O lado mais fecundo da teoria crítica é sua verve maiêutica da autocrítica, uma virtude em geral ausente em nossas propostas críticas, porque, ao pretenderem superar donos da verdade, se instauram ainda mais como donos dela. Teoria única, absolutamente válida, é um petardo religioso, um dogma sujo, uma tramóia violenta, por mais que tenha como objetivo abrir as mentes. Ignora, porém, como a wikipedia atual ignora, que mentes não se abrem impondo alinhamentos, censurando a rebeldia alheia, monopolizando a palavra. O tecido infinito de vozes díspares, rivais e complementares, é o texto pós-moderno, no bom sentido, certamente muito mais difícil de “gerir”. É sempre mais fácil gerir tente dócil, mesmo que se diga “crítica”. A wikipedia possui esta graça: retorna à biodiversidade da natureza, plural, esparramada, dinâmica, ambígua. Nenhuma obra final sai daí, porque toda obra é interrupção e continuação, original e surrada. “Todos podem editar” poderia ser traduzido como “todos podem sempre aprender”, sem nunca chegar a algum ponto final (Grossi, 2004). Esta utopia aponta para um estilo de “qualidade humana” em processo infindável de formação aberta, crítica e autocrítica, rival e solidária (Demo, 2009c).

Tudo isso, entretanto, não encobre o tumulto desta esfera pública, porque nela não se brandem só argumentos, mas sacanagens de toda sorte. A wikipedia tem equacionado este desafio razoavelmente, mas encontra questões complicadas e cansativas, azedadas também por seus critérios metodológicos positivistas. O problema é que a wikipedia ainda não consegue apreciar uma “boa discussão”, preferindo textos “neutros”. De um lado, faz parte da tradição enciclopédica: não se dedica a discutir, mas a compilar. De outro, perde-se oportunidade ímpar de iluminar este tipo de esfera pública dedicada à boa argumentação e que sempre é um discurso “discutível”. Os mentores da wikipedia, por ranço positivista, não conseguem valorizar esta dimensão. Como é reprimida, a resposta é a contra-repressão, travestida de vandalismo e atitudes similares agressivas, destrutivas. Possivelmente seria o caso conceber outros formatos de enciclopédia, para abranger o que a wikipedia é: um fórum de discussão aberta sobre produções vigentes de conhecimento, não um sarcófago de textos em decomposição. Em geral, os temas mais caros, sensíveis, tocantes são “controversos”, porque somos, em pessoa, uma controvérsia ambulante. O desafio seria armar ambientes onde a controvérsia pudesse ser relativamente bem comportada e construtiva, podendo-se regular a si mesma em seus riscos de agressão e dissolução. Não há solução para tais riscos, mas poderiam ser “geridos” num sentido democrático aproximado. No fundo, a wikipedia caminha para um texto “estabilizado”, porque considera texto adequado aquele que já não é discutido. Na prática, o ideal seria o contrário: texto pertinente é o que suscita discussão. A beleza maior de um texto está em sua abertura promovida pela autoridade do argumento.

A wikipedia teme que este tipo de discussão aberta levaria a lugar nenhum – discussão interminável. Pode ocorrer – discutir por discutir; criticar tudo sem colocar nada no lugar. Seria de se perguntar, entretanto, se textos estáveis levam a algum lugar melhor. Levariam ao mesmo lugar da enciclopédia tradicional, um mausoléu rebuscado de textos. Não é este o destino da wikipedia, porque é uma sarsa ardente. Neste sentido, vejo com preocupação o avanço da rigidez de regras que contradizem, cada dia mais, às premissas iniciais da liberdade irrestrita de expressão. Houve um tempo em que se sugeria ignorar as regas, em nome da criatividade. Hoje é todo o contrário: só há criatividade tolerável se obedecerem às regras. Uma contradição sarcástica. Aceitar que a ciência é um texto discutível implica mudança radical de epistemologia, porque despe os cientistas de sua autoridade de experto ou de esperto. Entretanto, não é o caso agredir o especialista. Ele é figura central da produção científica. Cabe, porém, reconhecer que não preenche o espaço científico sozinho. Há outros conhecimentos rivais, também relevantes, ainda que não concorram em importância com o científico na cultura eurocêntrica.

Tudo isso desvela, quase como um tapa na cara, a politicidade do conhecimento. Primeiro, pode-se aludir ao sarcasmo contido na própria wikipedia: prega procedimentos neutros em meio ao maior tumulto das guerras de edições. Neste sentido, abriga um faz-de-conta medieval, presente em todas as esferas positivistas: usa a ideologia da neutralidade para impor o silêncio a quem discorda. Segundo, a disputa por verdades, sempre repletas de inverdades, deveria ser substituída pela disputa por argumento, inspirada na autoridade do argumento. Isto não pacifica a comunidade, porque beligerância lhe está na alma também. Mas tempera com alguma ética, para que não se matem todos, não restando ninguém para o enterro. Terceiro, apesar de todas as promessas libertárias, a wikipedia também está pendurada em carismas fortes, cuja interferência é, em geral, engolida sem pestanejar, num gesto terrivelmente pouco democrático. Submissão a carismas é comum entre libertários...

Talvez não seja para se surpreender. A busca de coerência dos textos, em sentido formal, não pode obscurecer que somos criaturas contraditórias. Nossa própria mente, como artefato fisiológico, é uma composição de camadas em parte adaptadas, em parte dissonantes, cujas energias nem sempre são sinérgicas (Lewis et alii, 2000). Pregar a democracia mantendo um sentido forte de liderança é coisa comum em nossa história. Alardear liberdade de expressão e alinhar-se a líderes carismáticos, igualmente. A wikipedia tem este defeito e esta virtude. É defeito, porque promete o que não faz. É virtude, porque reflete a algazarra humana, na qual ter voz quase sempre implica suprimir a voz do outro.

Conclui na parte 4
Fonte:http://pedrodemo.sites.uol.com.br/textos/novasepist.html

segunda-feira, 12 de outubro de 2009

Dia do Professor pelo Mundo

O Dia do Professor como Feriado Nacional

Brasil


No Brasil, o Dia do Professor é comemorado em 15 de outubro.

No dia 15 de outubro de 1827 (dia consagrado à educadora Santa Teresa de Ávila), Pedro I, Imperador do Brasil baixou um Decreto Imperial que criou o Ensino Elementar no Brasil. Pelo decreto, "todas as cidades, vilas e lugarejos tivessem suas escolas de primeiras letras". Esse decreto falava de bastante coisa: descentralização do ensino, o salário dos professores, as matérias básicas que todos os alunos deveriam aprender e até como os professores deveriam ser contratados. A ideia, inovadora e revolucionária, teria sido ótima - caso tivesse sido cumprida.

Mas foi somente em 1947, 120 anos após o referido decreto, que ocorreu a primeira comemoração de um dia efetivamente dedicado ao professor.

Começou em São Paulo, em uma pequena escola no número 1520 da Rua Augusta, onde existia o Ginásio Caetano de Campos, conhecido como "Caetaninho". O longo período letivo do segundo semestre ia de 1 de junho a 15 de dezembro, com apenas dez dias de férias em todo este período. Quatro professores tiveram a idéia de organizar um dia de parada para se evitar a estafa - e também de congraçamento e análise de rumos para o restante do ano.

O professor Salomão Becker sugeriu que o encontro se desse no dia de 15 de outubro, data em que, na sua cidade natal, Piracicaba, professores e alunos traziam doces de casa para uma pequena confraternização. A sugestão foi aceita e a comemoração teve presença maciça - inclusive dos pais. O discurso do professor Becker, além de ratificar a idéia de se manter na data um encontro anual, ficou famoso pela frase " Professor é profissão. Educador é missão". Com a participação dos professores Alfredo Gomes, Antônio Pereira e Claudino Busko, a idéia estava lançada.

A celebração, que se mostrou um sucesso, espalhou-se pela cidade e pelo país nos anos seguintes, até ser oficializada nacionalmente como feriado escolar pelo Decreto Federal 52.682, de 14 de outubro de 1963. O Decreto definia a essência e razão do feriado: "Para comemorar condignamente o Dia do Professor, os estabelecimentos de ensino farão promover solenidades, em que se enalteça a função do mestre na sociedade moderna, fazendo participar os alunos e as famílias".

Índia

5 de setembro é o Dia do Professor na Índia. É o dia de nascimento do ex-presidente e professor indiano Dr. Sarvapalli Radhakrishnan. Quando o Dr. Radhakrishnan tornou-se o presidente da Índia em 1962, alguns de seus alunos e amigos se aproximaram dele e lhe pediram para permitir que eles comemorassem seu aniversário no dia 5 de setembro. Em resposta, o Dr. Radhakrishnan disse, "Ao invés de comemorar o meu aniversário separadamente, eu ficaria mais orgulhoso se o dia 5 de setembro fosse marcado como o Dia do Professor."

Ele não é um feriado na Índia. É considerado um "dia comemorativo", onde professores e estudantes vão para as escolas como de costume, mas as atividades habituais e de classe são substituídas por atividades de celebração, agradecimentos e recordações. Em algumas escolas neste dia, a responsabilidade de ensinar é deixada por conta dos alunos das séries mais avançadas como uma avaliação por seus professores.

Tradicionalmente, as pessoas na Índia têm tido grande respeito e estima pelos professores. Um antigo ditado indiano (geralmente ensinado para as crianças), coloca o professor em terceiro lugar: "Maata, Pitha, Guru, Daivam", significando a mãe, o pai e o professor é Deus. Há um outro ditado na forma de uma parelha de versos (doha), que diz, "Guru Govind doou khare kake lagon paai? Balihari guru aap ki Govind deeo batai," significando "Eu estou em dificuldade de saber quem saldar primeiro: o professor ou o Deus. Eu escolherei o professor porque ele é um instrumento da sabedoria de meu Deus". Ainda, um ponto central na escritura Hindu mostra "Guru Bramha, Guru Vishnu, Guru devo Maheshwaraha - Gurusakshath parabramha tasmai shree gurve namaha", que se traduz como "O professor é a santíssima trindade. O professor é a manifestação do próprio senhor".

Malásia

16 de maio é o Dia do Professor (malaio: Hari Guru) na Malásia.

Turquia

O Dia do Professor (em turco: Ögretmenler Günü) é comemorado em 24 de novembro na Turquia. O dia 24 de novembro foi dedicado aos professores por Kemal Atatürk. Atatürk achou e declarou que aquela nova geração seria criada por professores. (turco: "Ögretmenler yeni nesil sizin eseriniz olacaktir." - M. Kemal Atatürk)

O Dia do Professor comemorado em dias úteis

Albânia

Na Albânia, o Dia do Professor é um feriado não oficial em 7 de março, um dia antes do Dia das Mães (8 de março).

China

O Dia do Professor foi primeiramente instituído na Universidade Central Nacional em 1931. Foi adotado pelo governo central de Taiwan em 1932 e em 1939 o dia foi transferido para 28 de setembro, que é o dia do aniversário de Confúcio. Foi extinto pelo governo da República Popular da China em 1951 e restabelecido em 1985 sendo que o dia foi novamente mudado para 10 de setembro. Atualmente mais e mais pessoas estão fazendo esforços para retornar o Dia do Professor para o dia de nascimento de Confúcio.

República Tcheca

Na República Tcheca, o Dia do Professor (Den ucitelu) é um feriado não oficial, comemorado em 28 de março, aniversário de Jan Ámos Komenský (Comenius). As crianças levam flores para seus professores. Representantes do governo utilizam este dia para demonstrar agradecimento a esta profissão e premiar os melhores professores.

Irã

O Dia do Professor no Irã é comemorado em 2 de maio (Ordi,behesht 12, no calendário iraniano).

América Latina

O Dia Internacional do Professor na América Latina é 11 de setembro, em comemoração ao dia da morte de Domingo Faustino Sarmiento, um político argentino e pedagogo respeitado. Esta data foi estabelecida na Conferência Interamericana sobre Educação de 1943, no Panamá.

Muitos países latino-americanos, porém, têm uma data separada para comemorar o Dia do Professor de acordo com acontecimentos de sua própria história. No Brasil, o Dia do Professor é 15 de outubro. No México, em setembro de 1917, o Congresso Federal decretou o dia 15 de maio como Dia do Professor (Día del Maestro). No Peru, o Dia do Professor é comemorado em 6 de julho.

Polônia

Na Polônia o Dia do Professor (Dzien Nauczyciela), ou Dia da Educação Nacional (Dzien Edukacji Narodowej) é 14 de outubro. Nesse dia a Komisja Edukacji Narodowej (Comissão de Educação Nacional) foi criada em 1773.

Rússia

Na Rússia o Dia do Professor é 5 de outubro. Antes de 1994, esse dia era comemorado no primeiro domingo de outubro.

Cingapura

Em Cingapura, o Dia do Professor é um feriado oficial escolar, comemorado em 1 de setembro. As comemorações são geralmente realizadas no dia anterior, quando os estudantes têm metade do dia livre.

Eslováquia

Na Eslováquia, o Dia do Professor (Den ucitelov) é um feriado não oficial, comemorado em 28 de março, aniversário de Jan Ámos Komenský (Comenius).

Coréia do Sul

Na Coréia do Sul o Dia do Professor (스승의 날) é 15 de maio. Nesse dia, os professores são geralmente presenteados com cravos por seus alunos e ambos desfrutam de um dia escolar mais curto. Ex-estudantes prestam seus respeitos aos seus antigos professores visitando-os e oferecendo-lhes presentes. Atualmente muitas escolas por todo o país suspendem suas aulas para comemorarem esta data.

Taiwan

Na República da China (Taiwan) é comemorado em 28 de setembro. O dia presta homenagem às virtudes, às dificuldades dos professores e também as suas contribuições não apenas em relação aos seus próprios alunos, mas também para com toda a sociedade. As pessoas geralmente aproveitam o dia para expressar sua gratidão aos seus professores, tais como lhes fazendo uma visita ou enviando-lhes um cartão. Esta data foi escolhida por comemorar o nascimento de Confúcio, que se acredita ter sido o modelo de mestre e educador da antiga China.

Em 1939, o Ministério da Educação estabeleceu que o feriado nacional seria em 27 de agosto, atribuído ao dia de nascimento de Confúcio. Em 1952, o governo o mudou para setembro, alegando ser esta a data correta pelo Calendário gregoriano.

O festival comemorativo acontece nos templos de Confúcio espalhados por toda a ilha, conhecido como a "Grande Cerimônia Dedicada a Confúcio" (祭孔大典). A cerimônia acontece às seis horas da manhã com batida de tambores. 54 músicos vestindo roupões com cintos azuis, 36 (ou 64) dançarinos vestidos de amarelo com cintos verdes. Eles são conduzidos pelo chefe descendente de Confúcio (atualmente Kung Te-cheng) e acompanhado por oficiais do cerimonial. Três animais -- a vaca, a cabra, e o porco -- são sacrificados. A pelagem retirada desses animais sacrificados é chamada de Cabelos da Sabedoria.

Além disso, institutos locais de educação e órgãos civis oferecem prêmios a determinados professores por suas influências excelentes e positivas.

Tailândia

16 de janeiro foi adotado como o Dia do Professor na Tailândia por uma resolução do governo em 21 de novembro de 1956. O primeiro Dia do Professor aconteceu em 1957.

Estados Unidos da América

Nos Estados Unidos da América, o Dia do Professor é um feriado não oficial na terça-feira da primeira semana de maio.

A Associação de Educação Nacional (National Education Association) descreve o Dia Nacional do Professor como "um dia para homenagear os professores e reconhecer todas as contribuições duradouras que eles realizam em nossas vidas".

A Associação apresenta uma história do Dia Nacional do Professor: A origem do Dia do Professor não é precisa. Por volta de 1944 um professor de Arkansas Mattye Whyte Woodridge começou a se corresponder com líderes políticos e educacionais sobre a necessidade de se ter um dia nacional para homenagear os professores. Woodbridge escreveu para Eleanor Roosevelt que em 1953 convenceu o Congresso dos Estados Unidos a proclamar o Dia Nacional do Professor.

A Associação juntamente com seus estados afiliados Kansas e Indiana e Dodge City (Kansas) pressionaram o Congresso para criar um dia nacional para os professores. O Congresso declarou 7 de março de 1980, como o Dia Nacional do professor apenas para aquele ano.

A Associação de Educação Nacional e seus afiliados continuaram a comemorar o Dia do Professor na primeira terça-feira de março até 1985, quando a Associação Nacional de Pais e Professores estipulou a Semana de Avaliação do Professor na primeira semana de maio. A Assembléia Representativa da Associação de Educação Nacional então votou para que se fizesse na terça-feira daquela semana o Dia Nacional do Professor.

A partir de 7 de setembro de 1976, foi adotado o Dia do Professor em 11 de setembro no estado de Massachusetts.

Vietnã

No Vietnã, o Ngày nhà giáo Viêt Nam (Dia do Educador Vietnamita) cai em 20 de novembro. Naquele dia, os estudantes têm o dia livre, mas se espera que eles visitem seus atuais e antigos professores em suas casas e lhes levem flores para demonstrar sua consideração.

Inté mais professores

domingo, 11 de outubro de 2009

Evolussaum



è né, inté +

3° SARAU CAIÇARA – Pinacoteca Benedito Calixto (18/10)

por Adriane Almeida

A Pinacoteca Benedito Calixto será palco de uma manifestação que vem reunindo cada vez mais adeptos e despertando a reflexão sobre a importância de nossa identidade cultural. Artistas, músicos, pesquisadores e escritores do litoral paulista, preocupados com sua herança histórica e com a formação de uma arte contemporânea caiçara, realizarão em 18 de outubro, domingo, a partir das 14 hs, o 3º Sarau Caiçara.

A 3° edição do evento comemorará a apresentação do projeto de lei para a instituição do “Dia do Caiçara” no calendário de Santos, litoral paulista. Fruto da pesquisa de Márcio Barreto, presidente do Instituto Ocanoa e organizador do evento, foi apresentado pela vereadora Telma de Souza (PT) na Sessão da Câmara e encaminhado para as comissões técnicas do Legislativo. Segundo Telma de Souza, tudo o que se fizer em torno desta data, a fim de homenagear, debater ou discutir, ajudará a definir a identidade caiçara, pois “A identidade de um povo é condição primordial para que ele saiba seu lugar no tempo e no espaço, para que tenha consciência histórica, com respeito às suas grandezas, sua arte, cultura e modo de vida”.

O evento anterior, também na Pinacoteca, contou com um público de mais de cem pessoas e a participação de artistas de São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais e litoral paulista. Esta edição contará com a participação de Flavio Viegas Amoreira (Santos /SP) - escritor vanguardista, importante colaborador de jornais e sites, poeta, jornalista e agitador cultural apresentará um poema especialmente escrito para o encontro; Percutindo Mundos (São Vicente /SP), grupo experimental de música contemporânea caiçara que atua na criação de uma arte caiçara contemporânea através da música, vídeo, literatura, arte-educação e filosofia; Ademir Demarchi (Maringá /PR), escritor com livros publicados no Brasil e exterior, formado em Letras - Francês, com Mestrado (UFSC) e Doutorado (USP) em Literatura Brasileira, é editor da revista BABEL, de poesia, crítica e tradução;; Adilson Félix (Santos /SP), fotógrafo premiado internacionalmente, cujos trabalhos vão da alta moda em Paris e Nova Iorque à AIDS em Uganda e aos conflitos religiosos no Oriente Médio; Zéllus Machado (Santos /SP), músico, compositor, ator, artista multimídia, tem seus trabalhos semeados na literatura, no teatro, na música e na cultura caiçara; Tubarão (Santos /SP), escritor, artista plástico e arte-educador, expressa-se através de sua "Arte Dulixo" - um conceito que trabalha com diversas manifestações artísticas e culturais; Wylmar Santos (São Vicente /SP), músico, intérprete, compositor e pesquisador, no seu trabalho mergulha no universo de compositores malditos e em suas composições com parceiros; Biga Appes (São Vicente /SP), fotógrafa e agitadora cultural, participará com exposição de fotografias que retratam o universo caiçara urbano; GatoNinja (São Paulo /SP), rapper e escritor que atua no litoral paulista e São Paulo, envolvido com a literatura periférica e a música; Cyro Barreto (São Paulo /SP), poeta da novíssima geração, jovem escritor cujo vigor e profundidade poética se mesclam na improvisação do free style; Andréia Passos (São Paulo /SP), cantora, pianista e compositora paulistana; Coral Fosfertil Baixada Santista com a regência da maestrina, pesquisadora e escritora Meire Berti (Santos /SP); AnaK Albuquerque (Cubatão /SP) e Giovane Nazareth (Cubatão /SP) com o projeto “Aluminarte” - esculturas feitas a partir da fundição de latas de alumínio recicladas; José Geraldo Neres (Diadema /SP), poeta, ficcionista, roteirista, atua na área de Gestão Cultural como produtor e arte-educador, ministrando oficinas literárias; Kiussam de Oliveira (Diadema /SP), pedagoga, bailarina, coreógrafa, Doutora em Educação e Mestre em Psicologia (USP), atua como gestora pública na Secretaria de Educação de Diadema, arte-educadora ministrando oficinas sobre empoderamento feminino a partir da pedagogia da afrodescendência através da Dança Mítica dos Orixás; Marcelo Gama (Santos /SP), escritor, compositor, jornalista, agitador cultural e representante dos Novos Praianos; Márcia Costa (Santos /SP), jornalista e produtora cultural; Alessandro Atanes (Santos /SP), jornalista, escritor, músico e compositor; Erika Karnauchovas (Santos /SP), mestre em Artes Cênicas com a pesquisa "Um processo criativo em dança contemporânea”: a simbiose Pedra / Osso na conexão entre os Princípios da Eutonia e os Fatores do Movimento, concluída em 2008 no Instituto de Artes da Unesp, SP; Christy-ane Amici (Santos /SP), atriz e bailarina que apresentará um fragmento da peça “Atro Coração”; Adriane Almeida (Santos /SP), educadora e bióloga com a performance teatral “Ciranda Caiçara” representada pelos alunos da Escola Municipal Lucio (São Vicente /SP) e Anna Fecker (Santos /SP), atriz e modelo.

Segundo Márcio Barreto “O Sarau Caiçara possibilita o encontro de artistas, jornalistas e pesquisadores em torno da reflexão sobre nossa identidade cultural, base para a criação artística de nossa região”. As outras edições aconteceram em Santos, São Vicente e Paraty, Rio de Janeiro. O evento é gratuito.

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sexta-feira, 9 de outubro de 2009

Sarau da V.I.D.A. - 17 de Outubro

Convido todos a aprticiparem do próximo Sarau da V.I.D.A., evento que estou ajudando a organizar, será realizado no próximo dia 17 a partir das 15:00h, no Engenho dos Erasmos, ótima oportunidade de conecer ações de educação ambiental e curtir algumas atividades culturais, o evento é gratuito e além disso recolheremos óleo de cozinha usado e Garrafas PET que serão utilizados nas nossas ações de confecção de sabão e vassouras.Abaixo o cartaz de divulgação, podem copiar e divulgar.

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Star Wars muito bom

Que John Willians é sensacional ninguém nega, para quem não o conhece, é dele a trilha de filmes como Indiana Jones,E.T, Tubarão, Jurassic ParK, Superman, entre outros mais recentemente fez os tres primeiros filmes da série Harry Potter. Agora o que esse cara fez nos Estados Unidos é muito bom, em homenagem a John Willians ele produziu este video, para quem não entende muito o inglês fico devendo uma legenda( mas é toda referenciada na série Star Wars), mas dá para curtir o audio, além disso se ampliarem o video poderão ver centralizado o nome dos filmes que o rapaz está reproduzindo (se ainda tiverem não sacado rsrsrs).

Atualizado - agora temos legendas em português e o nome dos filmes aparece no alto centralizado.



Sensacional,muito bom mesmo.
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terça-feira, 6 de outubro de 2009

Sessão bobagem é tudo energia...

Se você ficar gritando por 8 anos, 7 meses e cinco dias, terá produzido energia sonora suficiente para aquecer uma xícara de café.(Não parece valer a pena.)

Se você peidar constantemente durante 6 anos e 9 meses, terá produzido gás suficiente para criar a energia de uma bomba atômica.(Agora sim!)

O coração humano produz pressão suficiente para jorrar o sangue para fora do corpo a uma distância de 10 metros.(Uau!)

O orgasmo de um porco dura 30 minutos.(Na minha próxima vida, quero ser um porco!)

Uma barata pode sobreviver 9 dias sem sua cabeça até morrer de fome.
(Ainda não consegui esquecer o porco)

Bater a sua cabeça contra a parede continuamente gasta em média 150 calorias por hora.(Não tente isso em casa; talvez no trabalho!)

O louva-deus macho não pode copular enquanto a sua cabeça estiver conectada ao corpo. A fêmea inicia o ato sexual arrancando-lhe a cabeça.
('Querida, cheguei! O que é is.....') O porco não esqueci.

A pulga pode pular até 350 vezes o comprimento do próprio corpo. É como se um homem pulasse a distância de um campo de futebol.
(Trinta minutos...que porco sortudo! Dá pra imaginar?)

O bagre tem mais de 27 000 papilas gustativas.
(O que é que pode haver de tão saboroso no fundo de um rio?)

Alguns leões se acasalam até 50 vezes em um dia.
(Ainda prefiro ser um porco na minha próxima vida...qualidade é melhor que quantidade!)

As borboletas sentem o gosto com os pés.(Isso eu sempre quis saber)

O músculo mais forte do corpo é a língua.(Hmmmmmmmm...)

Pessoas destras vivem em média 9 anos mais do que as canhotas.(E se a pessoa for ambidestra?)

Elefantes são os únicos animais que não conseguem pular.
(E é melhor que seja assim!)

A urina dos gatos brilha quando exposta à luz negra.
(E alguém foi pago para descobrir isso?!)

O olho de um avestruz é maior do que o seu cérebro.(Conheço gente assim)

Estrelas-do-mar não têm cérebros.(Conheço gente assim também)

Ursos polares são canhotos.(Se eles começarem a usar o outro lado, viverão mais)

Seres humanos e golfinhos são as únicas espécies que fazem sexo por prazer.
(E aquele porco???)

Agora que você já deu pelo menos uma risadinha, é hora de mandar esses fatos malucos para alguém que mereça rir também, ou seja... TODO MUNDO!

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O Professor Está Sempre Errado

O Professor Está Sempre Errado - Jô Soares

O material escolar mais barato que existe na praça é o professor!
É jovem, não tem experiência.
É velho, está superado.
Não tem automóvel, é um pobre coitado.
Tem automóvel, chora de "barriga cheia'.
Fala em voz alta, vive gritando.
Fala em tom normal, ninguém escuta.
Não falta ao colégio, é um 'caxias'.
Precisa faltar, é um 'turista'.
Conversa com os outros professores, está 'malhando' os alunos.
Não conversa, é um desligado.
Dá muita matéria, não tem dó do aluno.
Dá pouca matéria, não prepara os alunos.
Brinca com a turma, é metido a engraçado.
Não brinca com a turma, é um chato.
Chama a atenção, é um grosso.
Não chama a atenção, não sabe se impor.
A prova é longa, não dá tempo.
A prova é curta, tira as chances do aluno.
Escreve muito, não explica.
Explica muito, o caderno não tem nada.
Fala corretamente, ninguém entende.
Fala a 'língua' do aluno, não tem vocabulário.
Exige, é rude.
Elogia, é debochado.
O aluno é reprovado, é perseguição.
O aluno é aprovado, deu 'mole'.

É, o professor está sempre errado, mas, se conseguiu ler até aqui, agradeça a ele.
(fonte - Revista do Professor de Matemática, no.36,).

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segunda-feira, 5 de outubro de 2009

Viver...



"Durar não é estar vivo,
viver é outra coisa."

Mercedes Sosa

Mercedes.....

Este ano estamos sofrendo muitas perdas na area da arte, neste domingo nos deixou Mercedes Sosa, cantora, ativista politica, embaixadora da UNESCO... fiquem com um pouco de sua voz...



Para saber um pouco mais sobre sua vida cliquem aqui

CONHECIMENTO REBELDE E ENQUADRADO - Pedro Demo (parte 2)

Leia antes a parte 01 (cliquem aqui)

Novas epistemologias virtuais à luz da história da wikipedia

III. NEUTRALIDADE MAIS QUE ENGAJADA


A wikipedia é uma enciclopédia, e, como é da tradição enciclopédica, significa esforço de “compilação” do que existe. Tomado isto ao pé da letra, segue que seu conteúdo é típico “remix”, ou, reinterpretação das interpretações, discurso de discursos. Não caberia pesquisa original, a não ser se fosse já algo compilado. Sendo livre a edição, pelo menos em certo sentido, as compilações admitem, naturalmente, níveis muito diferenciados de qualidade, predominando facilmente as mais banais ou em torno de temas banais. Dificilmente Sócrates receberia maior atenção do que Sílvio Santos. É problema na wikipedia, certamente. No entanto, pode-se discutir o que seria propriamente “compilar”, aparecendo dois extremos: textos banais e sofisticados. Mesmo fazendo uma compilação da biografia de Sílvio Santos, pode ser conduzida com grande acuidade, senso crítico, elaboração meticulosa, demonstrando autoria visível. Por outra, pode-se fazer uma compilação medíocre de Sócrates. Em países avançados, esta questão é posta para os jornalistas com particular ênfase. Entre nós, um jornalista facilmente aborda qualquer assunto, porque tem formação qualquer. O resultado disso são entrevistas inomináveis, nas quais as perguntas, em vez de propor análises pertinentes do entrevistado, apenas revelam a futilidade do entrevistador. Quanto mais o assunto é complexo, no entanto, tanto mais surge o desafio de “especialização” do jornalista, como é o caso notável dos jornalistas “científicos” (que trabalham ciências naturais, por exemplo), exigindo-se deles altas credenciais acadêmicas, como doutorado nessas áreas. Supõe-se que, para falar de ciência, é imprescindível conhecimento especializado, mesmo tratando-se de compilação para a enciclopédia. É o que fazem as enciclopédias tradicionais, nas quais trabalham, como regra, apenas especialistas.

Por trás desta questão está uma discussão infernal em torno da “especialização” (expertise), em geral não apreciada pelos wikipedianos que fazem edições sem preocupar-se com isso. Há autores que não vêem problema nisso, porque apostam na “crowdsourcing”, confiantes no fenômeno da emergência ou no efeito-piranha. Aposta-se no processo natural de evolução que elabora níveis ulteriores/superiores, como o surgimento da vida. Surgem chances de criatividade, não do nada, mas da reconstrução dos componentes dados. A inteligência seria resultado deste processo emergente, por alguns visto também no universo como computador (Gardner, 2007. Wolfram, 2002), do que seguiria, igualmente, que o computador, um dia, também viria a tornar-se inteligente (Kurzweil, 2005). Alguns analisam a evolução natural como marcada intrinsecamente pela produção emergente da vida e da inteligência (Wright, 200. Jensen, 1998. Morowitz, 2002). Sem avançar mais nisso, interessa-me apenas delinear este tipo de expectativa que se tornou notório com o texto de Rheingold (2002) sobre “smart mobs” (multidões espertas), sugerindo que pessoas simples podem produzir textos inteligentes, desde que isto ocorra no contexto emergente da colaboração de todos.

A academia mantém suas suspeitas, porque a tradição modernista da produção científica a prende ao especialista credenciado (doutorado ou coisa que o valha), de estilo disciplinar. O questionamento da disciplinaridade da ciência (Demo, 2000) indica tratar-se de procedimento excessivamente reducionista, se tomarmos em conta que a realidade nunca é disciplinar. Seu tratamento dito científico o é, por apegar-se ao método analítico, que imagina entender a realidade recortando-a em partes subseqüentes, até a um nível último, onde se abraçam ontologia e epistemologia (a realidade no fundo seria simples e sua explicação também). Não se trata de rejeitar o reducionismo por completo, já que se aceita ser toda teoria naturalmente reducionista, porque idealiza a realidade em um modelo simplificado (Haack, 2003. Giere, 1999. Demo, 2000b). Rechaça-se o reducionismo sem autocrítica, por pretender fazer coincidir o discurso científico com a realidade analisada sem mais. Levando-se ainda em conta a querela em torno da interdisciplinaridade, em geral pouco produtiva, além de banal (Demo, 2000), restou a impressão de que dispensar a especialização implica a banalização do conhecimento: conhecimento aprofundado é sempre especializado. Enquanto se repele a disciplinarização do conhecimento, parece difícil escapar da especialização, por mais que esta tenda a constituir o “idiota especializado” (sabe tudo de nada). No outro lado, está o “especialista em generalidades” (sabe nada de tudo) e que, bem observado, não passa também de um “especialista”, como se vê claramente no “médico generalista” – não é aquele que, não sabendo medicina, faz qualquer coisa; muito ao contrário. Ademais, se aceita, modestamente, que a interdisciplinaridade não pode ser obra de uma pessoa, mas de um grupo de especialistas (trabalho em equipe). Ao formar-se uma equipe interdisciplinar, nota-se imediatamente que a expectativa de cada membro é de que o outro tenha conhecimento especializado, não fazendo sentido cada um penetrar – como generalista – na seara do outro.

Não se podendo evitar a especialização (os problemas a serem analisados possuem marcas especiais, não apenas gerais), seria razoável concertar as coisas: sem prejudicar a verticalização do conhecimento, ampliar a horizontalização (mais leitura, discussão conjunta, diversificação de interesses). Como mostra Santos, com suas teses da multiculturalidade do conhecimento, da ciência como senso comum e das epistemologias alternativas (1995; 2004; 2009; Santos & Meneses, 2009), o conhecimento científico é um exemplar no mundo vasto dos conhecimentos possíveis, ainda que seja amplamente dominante na cultura eurocêntrica. Seria, então, viável desenvolver a noção de conhecimentos rivais, não fincados apenas em expertise, mas produzidos colaborativamente, como pretende a wikipedia. Este tipo de conhecimento não substitui o especializado; não faria sentido tentar, pois tem outro significado, mais próximo do que seria, por exemplo, uma “compilação”. Numa enciclopédia não “está” o conhecimento da humanidade, pois conhecimento “não está”, sendo dinâmica interminável de desconstrução/reconstrução. Está aí apenas a compilação dos processos estabilizados de produção de conhecimento, no fundo, já congelados como informação. Poder-se-ia, entretanto, alimentar outra concepção de enciclopédia como dinâmica aberta de produção de conhecimento e que subsiste em discussão permanente, através de processos de edição interminável, sem estabilização à vista. O que mais se aproxima disso é a wikipedia, ainda que sua configuração metodológica se oriente por outra visão (modernista). Restaria discutir ainda se “todos podem editar”, já que, se pesquisa original fosse aceita (deveria ser aceita, creio), a presença do pesquisador devidamente formado seria imprescindível, também para não surgir logo confrontos pouco edificantes entre pesquisadores “duros”, mais rigorosos, formalistas, matemáticos, e outros “moles”, das ciências humanas (Spariosu, 2006). O que “todos podem editar” seriam textos experimentais, iniciais, de pesquisadores menos preocupados com metodologia científica, do que com seu processo caótico de criatividade. De repente, isto ficaria muito bem numa wikipedia.

De fato, um dos traços mais atraentes da wikipedia é a desconstrução da academia como dona da verdade e do método científico. No surgimento da era moderna (por volta do século XVI) (Burke, 2003. Collins, 1998), a descoberta mais incisiva foi a da “autoridade do argumento” – o discurso científico se mantém, não pendurado em autoridades (por exemplo, religiosas, tradicionais, políticas), mas por força de sua argumentação. Um dos confrontos marcantes foi entre os cientistas da época que defendiam o heliocentrismo, e as “autoridades” que, por razões teológicas sobretudo, defendiam o geocentrismo. O confronto resolveu-se em favor do heliocentrismo, mesmo a contragosto do Papa. O argumenta de autoridade estaria descartado, definitivamente (Demo, 2005; 2008). Todavia, como ciência é produzida em sociedade, não escapa das marcas sociais, como mostrou magistralmente Kuhn (1975), ao reconhecer que toda revolução científica acaba se acomodando em paradigmas que a tornam cada vez mais medíocre, por tornar-se reprodutiva. Retorna o argumento de autoridade, porque o mundo da ciência é composto de cientistas que manifestam os mesmos traços de volúpia pelo poder, sem falar que conhecimento é, intrinsecamente, poder (Portocarrero, 1994). Os processos de produção de conhecimento, mesmo marcados pela liberdade de expressão naturalmente, estão eivados de interferências suspeitas de donos da verdade, até porque aí se acredita, à revelia da autoridade do argumento, em verdades finais e estáveis, uma fantasia criada pelo método científico, pretensamente neutro/objetivo. Verdades “teológicas” foram substituídas por outras não menos teológicas (Feyerabend, 1977).

Ignora-se não apenas o contexto social da produção científica, mas principalmente o contexto hermenêutico das epistemologias plurais (Demo, 2009b): a par dos procedimentos formais (em si neutros/objetivos, porque não há uma matemática ou lógica brasileira e outra chinesa), a mente humana, sendo autopoiética e auto-referente, não reproduz textos, mas os reconstrói do ponto de vista do observador participante (Demo, 2002). A matemática usada por Einstein é a mesma de todos; ele próprio não é. Sem ele, talvez não tivéssemos até hoje o teorema da relatividade, pois este teorema, a par de sua forma, é igualmente uma reconstrução genial. Gödel, de certo modo, sinalizou isso com seu teorema da incompletude (Alesso & Smith, 2009), mas na academia modernista, positivista, persiste o discurso como produto neutro/objetivo (Demo, 1995). A wikipedia não pretende desconstruir rigores formais ou formalização como método. Satiriza a pretensão inatacável dos cientistas, em especial a venda fácil do argumento de autoridade como autoridade do argumento. Esta venda se consubstancia no apego à verdade dos fatos, esquecendo-se, como diria Popper entre outros, que mesmo fatos só são fatos a partir de um processo de reconstrução mental e à luz de hipóteses rivais/complementares. Por isso Hobsbawm (1995) fala de “breve século XX”, enquanto Arrighi (1996), de “longo século XX”! Certamente, o ambiente dos historiadores é bem diferente daquele das ciências naturais, mas também nestas as abordagens são conduzidas por aproximações hipotéticas eivadas de interpretação auto-referente. É por isso que a “teoria da evolução” (de Darwin) é tida por alguns como “comprovada” (escola de Dawkins) (1998), por outras como hipótese importante e a ser reconstruída (escola de Gould) (2002), e por outros ainda como improvável ou inaceitável (criacionistas).

Satirizar a academia não significa desprezar o que se tem feito, em especial as contribuições da tecnologia, entre elas do computador, engenharia genética, física quântica. Quer-se apenas desfazer a empáfia dos donos da verdade que, vendendo-se como arautos da autoridade do argumento, maquinam o argumento de autoridade. Em termos epistemológicos, a autoridade do argumento só pode deter validade relativa, precisamente para não virar autoridade. Qualquer produto científico que não seja apenas formal detém esta marca natural e social. No mundo da ciência há infinitas gradações, desde as mais rebuscadas, até as mais triviais, assim como numa enciclopédia podem-se achar compilações primorosas e fúteis. Desprezando extremos, seria sempre cabível admitir formatos diferenciados de enciclopédias, desde as mais requintadas, feitas por especialistas consumados, até outras mais populares, feitas por “todos que querem editar”. Neste caso, as edições serão menos “especializadas”, mas não precisam, por isso, serem fúteis, como a wikipedia, como um todo, está longe de ser fútil. Bastaria lembrar do estudo da Nature (Nature, N.d). A sátira cabe ainda mais a pretensos cientistas que se apresentam como tais, não sendo na prática autores importantes e competentes, como são os casos incontáveis de acadêmicos que, sem produção própria, dão aula a torto e a direito. A nova geração está cansada deste disparate, embora possa responder a um extremo com outro (Tapscott, 2009. A vision, 2009), desprezando apressadamente a expertise.

A hipótese de que uma multidão de amadores poderia produzir alta qualidade ainda é obscura (Keen, 2007. Bauerlein, 2008), também porque a hipótese da emergência se aplicaria a processos evolucionários de bilhões de anos. Neste sentido, a crítica pode ser procedente: na wikipedia há bem mais animação comunitária do que qualidade acadêmica. É lindo galvanizar tanta gente, mas isto não garante qualidade, muito menos substitui a expertise. O que a wikipedia sugere é que, “todos podendo editar” (hoje isto tem validade bastante mais relativa), é possível oferecer produtos respeitáveis, também porque no meio de “todos” há os especialistas e que tendem a assumir os textos mais complexos. “Todos” podem compilar uma biografia de Silvio Santos, mas não sobre física quântica. Tomando-se uma dimensão mais popular da enciclopédia e que admitiria estilos mais flexíveis de compilação, a wikipedia tem-se demonstrado útil, produtiva e convincente, além de atualizada. Proibir seu uso para fins de estudo e pesquisa parece fundamentalismo tolo. O que cabe dizer sempre é que a wikipedia não substitui outros formatos de enciclopédia.

IV. REBELDIA REGULADA

As três regras metodológicas podem, a esta altura, ser questionadas mais detidamente. NPOV (ponto de vista neutro) representa um preito ostensivo ao positivismo, em si compreensível nos Estados Unidos, a pátria maior da wikipedia. Ainda que se conceda que não poderia existir neutralidade, usa-se este jargão para empurrar as discussões para algum consenso, em nome de alguma verdade, nunca definida mais de perto. Na prática, a proposta se deve ao temor da discórdia, esperando-se que, tendo boa vontade, todos iriam se encontrar em algum lugar tranqüilo. A contradição é flagrante e claramente sarcástica: de um lado, se todos podem editar, isto representaria naturalmente a diversidade de pontos de vista; de outro, espera-se que tudo isso se acalme num texto final de um único ponto de vista; no entanto, se todos podem editar sempre, não haveria texto final, mas em progresso incessante; nem se poderia imaginar que os textos, oriundos de incontáveis pontos vista, acabassem como peças sem ponto de vista. Colidem aí dois desideratos irreconciliáveis: saber discutir e saber alinhar-se. Ora, quem sabe discutir, não se alinha; quem se alinha, não sabe discutir. A wikipedia é a cara disso, quer queira ou não. Diria, de meu ponto de vista, que é das marcas mais saudáveis dela, partindo de outra visão. Se a ciência produz textos sempre discutíveis, formal e politicamente, eles podem deter grande qualidade de elaboração, precisamente porque permanecem abertos a elaborações ulteriores, não porque se chegaria a algum patamar “neutro”. O critério maior de cientificidade é a “discutibilidade” dos textos em nome da autoridade do argumento. O exercício do aprimoramento das edições, desde que feito sob a égide da autoridade do argumento, é dinâmica de rara beleza pedagógica, porque não só promove a habilidade de produzir conhecimento, como promove, ainda mais, um estilo de cidadania capaz de negociar consensos aprimorados, ainda que nunca finais (Demo, 2008). NPOV aparece na cena como excrescência, um alinhamento a metodologias positivistas e que em nada funciona neste tipo de ambiente. É farsa cômoda.

Quanto à verificabilidade – V – a crítica é similar: os textos científicos não são propriamente verificáveis ao pé da letra, porque esta presunção supõe correspondência direta entre teoria e realidade, algo impraticável em nossa mente auto-referente e autopoiética. Podem, sim, ser retestados, controlados, cotejados, mormente reinterpretados, contra-interpretados. Tal percepção da verificabilidade esconde, ademais, a mediocridade gritante da compilação alinhada a fontes muitas vezes impróprias. O alinhamento a fontes facilmente atropela a pesquisa mais detida que questiona as fontes. Esta tática tem seu lado tranqüilizador: impedir que as edições se façam à-toa. No entanto, pode-se imaginar coisa bem melhor, quando se mantêm os textos discutíveis por força da autoridade do argumento: até mesmo texto sem cotejo de fontes poderia ser aceito, desde que bem argumentado; alguém poderia elaborar uma bibliografia de Silvio Santos de próprio punho e que, sendo melhor que todas as existentes, não ganharia nada em referenciá-las. Poderia parecer estranha esta biografia sem citação – pode-se, claro, sempre citar, desde que não vire fetiche – mas sua qualidade depende, antes de tudo, da pesquisa acurada e espelhada em dados testáveis, além do esmero do texto elaborado. A referência fundamental aí seria a fontes adequadas, compulsadas para levantar a vida de Silvio Santos.

NOR (sem pesquisa original), por sua vez, ainda que sirva para evitar “invencionices” de toda sorte, tende a ser restritiva desnecessariamente. Há certa desconfiança de que, podendo todos editar, as contribuições podem não ser brilhantes, em especial quando se alega pesquisa própria. Espera-se disso, porém, justa e contraditoriamente o brilhantismo da wikipedia. Ainda, ao castigar a “originalidade”, machuca-se a autoria, exasperando o lado medíocre da compilação. Daí segue uma enciclopédia eivada de textos dúbios, ao lado de outros muito bons, como é a wikipedia (Lih, 2009). Ficaria melhor abrir a possibilidade de textos “originais”, desde que dinamizados pela autoridade do argumento. Ademais, persistindo a repulsa aos expertos, corre-se o risco flagrante de fazer dos textos exercícios amadores, ou “discursos de discursos” indefinidamente. Este problema volta na questão da notabilidade, preferida à relevância: a comunidade que não se orienta pela autoridade do argumento facilmente adota temas fúteis, perdendo-se em diatribes pouco aproveitáveis. Compilação que se preza indica autoria, não plágio. Para dar um exemplo corriqueiro: em ambientes positivistas, “revisão de bibliografia” tende a ser gesto descritivo, cumulativo, reprodutivo, agregando pedaços de autores disparatados; em outros ambientes, pode ser iniciativa compromissadamente reconstrutiva, dentro do desafio de ler autores para se tornar autor, ou “contraler” (Demo, 1994; 2008a).

A wikipedia descobriu logo que o concurso dos contribuintes será bem mais importante que regras metodológicas. De certa forma, instigou a produção incipiente, apostando em que os outros editores, entrando em cena, acabariam tornando esta produção incipiente em texto respeitável. Confia-se, em excesso, na participação como tal, supondo igualmente a boa fé de todos. A experiência malograda do Los Angeles Times (wikitorial sobre a guerra no Iraque) foi marcante no sentido de mostrar que não se pode confiar tanto assim na “mágica” da wikipedia. Não se critica este gesto de boa vontade, porque pior seria imaginar, previamente, que todos são malandros, mal-intencionados, até prova em contrário. É muito interessante a expectativa de um ambiente caótico, marcado pela liberdade de expressão, repleto de vozes diferenciadas, representando nisto também a biodiversidade. O problema é que se escondem as contradições deste tipo de dinâmica: de um lado, instiga-se que todos participem; de outro, desconfia-se que, onde todos participam, o resultado pode ser frívolo; para evitar isso usam-se dois discursos incompatíveis: participar à vontade, mas respeitando regras cada vez mais rígidas. Parece salutar a preocupação em manter os procedimentos como instrumentais, valorizando-se o conteúdo criativo. Mas a história da wikipedia indica que os procedimentos estão se tornando a própria finalidade maior, a ponto de sabotar um dos pontos de partida mais iluminados: os textos são sempre abertos. Buscam-se mentes indomáveis, desde que aceitem ser domadas no processo.

Entendo que as três linhas metodológicas, ainda que detenham noções práticas, são um cardápio indigesto, formulado em ambientes pouco iluminados metodologicamente e muito alinhados ao positivismo dominante. O que incomoda é que tudo isso se arma para manter o princípio de que “todos podem editar”, uma contradição vagabunda. De um lado, busca-se um estilo candente de produção de conhecimento, sempre aberto e atualizado; de outro, impõem-se regras que extirpam este fogo. O que a wikipedia é, em tom maior, é um campo de forças marcado por interpretações rivais e nisto criativas. A cooperação é dinamizada também pela rivalidade, porque, na natureza e na sociedade, são processos dialéticos na unidade de contrários. Incomoda na wikipedia que este ambiente facilmente desanda em vandalismo, agressão, destruição, esquecendo-se do compromisso com a obra básica: uma enciclopédia feita a mil mãos. Neste sentido, em vez de pregar alinhamentos metodológicos que apenas reforçam as rivalidades, seria mais recomendável estudar modos de convivência rival e, ainda assim, éticas. Isto aponta naturalmente para a força sem força da autoridade do argumento (Demo, 2005a).

Ainda não acabou, continua na parte 3
Originalmente visto em http://pedrodemo.sites.uol.com.br/textos/novasepist.html
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Ska P - El Vals Del Obrero



El Vals Del Obrero


Orgulloso de estar entre el proletariado
es difícil llegar a fin de mes
y tener que sudar y sudar
pa ganar nuestro pan

Éste es mi sitio, ésta es mi gente
somos obreros, la clase preferente
por eso, hermano proletario, con orgullo
yo te canto esta canción, somos la revolución.

¡SI SEÑOR! La revolución
¡SI SEÑOR!¡SI SEÑOR! , somos la revolución,
tu enemigo es el patrón
¡SI SEÑOR!¡SI SEÑOR!, somos la revolución,
viva la revolución

"Estyhasta" los cojones no aguantan las sanguijuelas,
los que me roban mi dignidad
Mi vida se consume soportando esta rutina que me ahoga cada dia más.

Feliz el empresario, más callos en mis manos
mis riñones van a reventar.
No tengo un puto duro, pero sigo cotizando
a tu estado del bienestar.

¡RESISTENCIA!
¡RESISTENCIA!
¡RESISTENCIA!

baila hermano el vals del obrero....

Éste es mi sitio, ésta es mi gente
somos obreros, la clase preferente
por eso, hermano proletario, con orgullo
yo te canto esta canción, somos la revolución

En esta democracia hay mucho listo que se lucra
exprimiendo a nuestra clase social.
Les importa 4 huevos si tienes 14 hijos y la abuela no se puede operar.

Somos los obreros, la base de este juego
en el que siempre pierde el mismo nivel,
un juego bien pensado, en el que nos tienen callados y te joden si no quieres jugar.

¡RESISTENCIA!
¡RESISTENCIA!
¡RESISTENCIA!
¡RESISTENCIA!
¡DE-SO-BE-DIEN-CIA!

domingo, 4 de outubro de 2009

"Quando o conhecimento afasta as pessoas, prefiro ficar na rapadura"

Recebi esta do pessoal do Blogs Educativos, produzida pelo Prof.Marcos Meier


**QUANDO NÃO SE TEM ESTUDO
Rapadura é doce, mas não é mole, não!*

**QUANDO SE TEM ENSINO FUNDAMENTAL
Açúcar mascavo em tijolinhos tem o sabor adocicado, mas não é macio ou flexível.

**QUANDO SE TEM ENSINO MÉDIO
Açúcar não refinado, sob a forma de pequenos blocos, tem o sabor agradável do mel, porém não muda de forma quando pressionado.

**QUANDO SE TEM GRADUAÇÃO
O açúcar, quando ainda não submetido à refinação e, apresentando- se em blocos sólidos de pequenas dimensões e forma tronco-piramidal, tem sabor deleitável da
secreção alimentar das abelhas; todavia não muda suas proporções quando sujeito à compressão.

**QUANDO SE TEM MESTRADO
A sacarose extraída da cana de açúcar, que ainda não tenha passado pelo processo de purificação e refino, apresentando- se sob a forma de pequenos sólidos tronco-piramidais de base retangular, impressiona agradavelmente o paladar, lembrando a sensação provocada pela mesma sacarose produzida pelas abelhas em um peculiar
líquido espesso e nutritivo..
Entretanto, não altera suas dimensões lineares ou suas proporções quando submetida a uma tensão axial em conseqüência da aplicação de compressões equivalentes e opostas.

*QUANDO SE TEM DOUTORADO
O dissacarídeo de fórmula C12H22O11, obtido através da fervura e da evaporação de H2O do líquido resultante da prensagem do caule da gramínea Saccharus officinarum, (Linneu, 1758) isento de qualquer outro tipo de processamento suplementar que elimine suas impurezas, quando apresentado sob a forma geométrica de sólidos de
reduzidas dimensões e restasretilíneas, configurando pirâmides truncadas de base oblonga e pequena altura, uma vez submetido a um toque no órgão do paladar de quem se
disponha a um teste organoléptico, impressiona favoravelmente as papilas gustativas, sugerindo impressão sensorial equivalente provocada pelo mesmo dissacarídeo em
estado bruto, que ocorre no líquido nutritivo da alta viscosidade, produzindo nos órgãos especiais existentes na Apis mellifera.(Linneu, 1758) No entanto, é possível
comprovar experimentalmente que esse dissacarídeo, no estado físico-químico descrito e apresentado sob aquela forma geométrica, apresenta considerável resistência a modificar apreciavelmente suas dimensões quando submetido a tensões mecânicas de compressão ao longo do seu eixo em conseqüência da pequena capacidade de deformação que lhe é peculiar.

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Curta no Blog - Eh, Pagu, eh!

"Eh Pagu, eh!"
de Ivo Branco (15 min, 1882)

O filme conta um pouco da vida e da obra de Patrícia Galvão, a Pagu. Casada com Oswald de Andrade, participou do Movimento Antropofágico. Jornalista, escritora e tradutora, entre outras coisas, ficou presa por quase cinco anos durante a ditadura Vargas por ser militante do PCB.



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CONHECIMENTO REBELDE E ENQUADRADO - Pedro Demo (parte1)

Novas epistemologias virtuais à luz da história da wikipedia

A wikipedia começou em 2001. Em oito anos de existência, tornou-se uma enciclopédia “livre” de porte incrível (Wikipedia, 2009), congregando a dedicação de milhares de pessoas gratuitamente para editar textos sob a égide da liberdade de expressão. O mote central era: “Todo mundo pode editar”, sinalizando liberdade irrestrita de autoria individual e coletiva – no plano individual, todos podem apresentar seu texto e/ou fazer mudanças nos textos existentes; no plano coletivo, nenhuma autoria individual é soberana, valendo o texto coletivamente urdido e sempre aberto. Havia a expectativa, em geral fundada na proposta de “crowdsourcing” (Howe, 2009) ou de “smart mob”[1] (Rheingold, 2002. Tapscott & Williams, 2007), de que o concurso de uma massa crítica numerosa produziria, em sua própria dinâmica e sem hierarquias, conhecimento de suficiente qualidade (Lih, 2009. O’Neil, 2009). Por trás está uma teoria biológica da “emergência”, segundo a qual a natureza constrói e reconstrói novos seres e dinâmicas a partir de estágios anteriores menos sofisticados, em parte chamados pelos internautas de “remix” (Weinberger, 2007. Latterell, 2006). Assim teria surgido a vida em suas múltiplas formas, bem como da massa cinzenta surge pensamento: “emerge” de uma base material para aparecer como dinâmica imaterial (Edelman & Tononi, 2000). De algo mais simples pode resultar extrema complexidade (Wolfram, 2002), e sem comando central (Johnson, 2001. Holland, 1998. Wright, 2000). Do caos pode provir ordem, como sugere Holland, em processo de criatividade crescente, ainda que a natureza, em si, nada “crie” do nada. Ela cria do que já existe, ou seja, reconstrói indefinidamente. Esta expectativa faz parte da construção da wikipedia, referenciada também como “efeito-piranha” ou “stigmergy”[2], categorias da pesquisa biológica para descrever o comportamento de vespas e cupins, quando constroem coletivamente estruturas complexas; o produto do trabalho prévio, ao invés de comunicação direta entre os construtores, induz e direciona como tais insetos realizam trabalho adicional e sem comando central de cima para baixo. Ocorreria algo similar na wikipedia: cada editor retoma o trabalho anterior e assume aí um direcionamento para continuar, redundando, ao final, num texto aprimorado.

De posse de um software (Wiki) que faculta edição livre de texto e apostando em tais expectativas teóricas, a wikipedia iniciou uma façanha inédita e estrondosa, apresentando por volta de 2008 dez milhões de textos em mais de 200 línguas. Nesse tempo, ocorreu uma fábrica excitada e incomensurável de textos, mostrando o lado fantástico da cooperação humana, a ponto de alguns teóricos verem aí um “novo modo solidário de produção” (Benkler, 2006). Sendo gratuita a contribuição na wikipedia, chama a atenção que tanta gente encontre motivação por vezes devota e desinteressada a este empreendimento coletivo. No entanto, as promessas de liberdade de expressão foram, aos poucos, sendo restringidas, em parte por causa de seus abusos (o preço da liberdade é seu abuso), em parte para organizar melhor o processo produtivo e garantir padrões mínimos de qualidade acadêmica. A rebeldia do conhecimento se submeteu crescentemente a ritos de enquadramento, sugerindo que a wikipedia também expressa ambigüidades comuns a projetos coletivos que se querem libertários: forjados para captar e potencializar a contribuição livre de todos, somente avançam e se consolidam sob crescente regulação da participação, das atividades e das instituições. O exercício coletivo da liberdade implica seu cerceamento, em nome do bem comum. Uma clássica “unidade de contrários”...

Neste texto procuro analisar esta peripécia extraordinária, ressaltando inovações espetaculares e traições comuns em práticas libertárias que convivem, ironicamente, com autoridades indiscutíveis. Depois de oito anos, o mote “todos podem editar livremente” já tem validade muito relativa; para muitos já sequer vale, tamanhas são as regras impostas entrementes a quem quer ser editor. Mesmo assim, isto não destrói a beleza do projeto, embora revele, à revelia, o drama da liberdade de expressão, essencial para o conhecimento questionador: desde que a rebeldia tenha alguma proposta concreta, ao pôr-se a realizá-la, deixa de ser rebelde; de fato, quem propõe mudanças, não as pode gerir! Toda proposta crítica, ao instituir-se, vira paradigma e, como tal, decai para a história que passa e ultrapassa. A wikipedia ainda é um furacão, mas está perdendo fogo, visivelmente.


I. PROMESSAS


A wikipedia conclama a sociedade em geral para produzir conhecimento. Nunca se viu isto antes, porque produzir conhecimento sempre foi atividade reservada, preservada, censurada (Shattuck, 1996. Rescher, 1987), tendo como patrulheiros os especialistas e as entidades que os abrigavam. Relembrando o relato do Gênesis, sobre o “pecado do conhecimento”, a mensagem era similar: quem sabe pensar está acima dos outros e pode até mesmo rebelar-se contra seu criador. Conhecimento seria, em si, uma centelha divina que perdura na mente humana, mesmo depois do pecado. Os “representantes de Deus” foram, no modernismo, substituídos por representantes do conhecimento, tendo como pastores maiores os doutores e como igreja central a universidade (Collins, 1998. Demo, 2004. Andrew, 2009). Conhecimento é energia tão fundamental e disruptiva que a sociedade se preocupa também em domesticá-la, já que se teme a quem sabe pensar, porque saber pensar não é só questão de inteligência, é também de poder. Não se teme a um pobre com fome, que facilmente se acomoda ao receber comida. Teme-se a um pobre que sabe pensar, porque questiona o sistema que o faz pobre. Este “contra-poder” aparece na história humana em iniciativas de excluídos que conseguem confrontar-se com seus opressores (Freire, 2006), passo indispensável para não esperar a libertação do próprio opressor (Demo, 2007). A emancipação exige a habilidade de se confrontar, no sentido de saber questionar a condição dada, tomar o destino em suas mãos e virar a história: a energia vital desta virada é saber pensar (Demo, 2009). Faz parte do saber pensar fazê-lo em liberdade: a mente livre é sua casa. Por isso, “liberdade acadêmica” sempre foi fundamento intocável da educação e da universidade e dos “intelectuais” em geral. Nisto igualmente são temidos, porque daí provém o questionamento do status quo, ainda que este questionamento possa ser apenas “intelectual” (Demo,1982; 1988). A mente humana tem, entre suas capacidades, a de nunca estar satisfeita, porque saber pensar implica igualmente saber ir além do que está dado e especular, imaginar, fantasiar o que poderia ser (utopia) (Demo, 1973). Daí provêm as tecnologias, signo maior de um ser que não se basta. Como reza a Bíblia, quer ser deus, como aparece freqüentemente na ficção científica: a capacidade de manipular o mundo e suas leis para se poder fazer o que bem se entende.

Esta rebeldia, entretanto, tem seu lado sombrio. Primeiro, como se alega em sociologia, o revolucionário de hoje será o reacionário de amanhã, desde que chegue ao poder. Já cansamos de ver isso na história (Holloway, 2003). Quem sabe pensar, nem sempre gosta que outros também saibam pensar. Segundo, questionar dificilmente vem acompanhado de autoquestionar-se. A hipocrisia corrói as entranhas do saber pensar, tornando-o autodefesa e artimanha. Bastaria observar os procedimentos de antigos escribas e pajés, e do abuso do saber especializado hoje. O sistema educacional, em grande parte, abriga a artimanha do domínio das mentes (Demo, 2004), através de procedimentos disciplinares, acerbamente criticados por Foucault (2007). Por ser auto-referente e não permitir acesso externo direto, a mente humana facilmente se apresenta como habilidade dúbia: o que está na mente do outro se pode, no máximo, induzir, não saber. Ao mesmo tempo que podemos produzir conhecimento de qualidade e também compartilhá-lo com os outros, podemos, não menos, nos apropriar desta produção, ou deturpá-la, manipulá-la em proveito próprio. Segundas intenções freqüentemente são as primeiras. A mente humana não é equipamento que procede de maneira neutra, objetiva, porque não se porta como expectadora, recipiente, absorvedora, mas como dinamicamente participativa daquilo que entra na mente. Entender a realidade não é fazer dela cópia, representação direta, mas reconstruir imagem sob risco próprio. Como sugere a autopoiese, torna-se quase impossível distinguir entre realidade e alucinação (Maturana, 2001), pois o critério de distinção poderia estar alucinado. Do que está na mente a única instância é a própria mente, ainda que, vivendo em sociedade, surge sempre a possibilidade natural de coordenação das mentes, resultando disso percepções socializadas do que é realidade. Na prática, não vemos as coisas como são, mas como somos (Demo, 2009).

A mente é dinâmica manipuladora da realidade, ao trabalhar com percepções construídas de maneira auto-referente. No entanto, esta manipulação possui igualmente seu lado não acessível à própria mente, já que esta, no processo evolucionário e cultural, não se inventa. Não inventamos, por exemplo, a linguagem, a recebemos no contexto de uma cultura dada e da qual somos parte e usuários, em parte “usados”. A mente não inventa o que quer, mas o que é viável evolucionária e culturalmente. Isto não desfaz sua capacidade criativa, mas a circunstancia em dinâmicas relativas, como aludia Barthes com a tese da “morte do autor” (1968). A visão socrática do conhecimento pode ser corretivo pertinente: quem saber pensar, sabe sobretudo que não sabe tudo; precisa, antes de tudo, questionar o saber pensar. Isto não resolve a questão, como se a mente pudesse “saber-se” por inteiro, mas permite avançar com cautela e coordenar-se melhor com outros modos de saber pensar. A face mais interessante deste imbróglio é a “arte de interpretar” (Foucault, 2004. Gadamer, 1997), reverberando o lado sempre original da mente: embora nenhuma seja evolucionária e culturalmente original, o é em sua individualidade e subjetividade, não havendo, jamais, duas interpretações iguais, mesmo quando se trata do mesmo sujeito. Por exemplo, se perdemos um texto digitado no computador e temos, depois, que refazê-lo, não há a menor chance de que possamos repor o mesmo texto. Será outro texto, por mais similar que seja. A mente humana é de tal modo plástica, jeitosa, criativa que produz música, poesia, piada, arte, e também ciência e matemática.

A evolução da wikipedia ilustra, com cores muito vivas, uma proposta de produção de conhecimento mais visivelmente conturbada e criativa, em parte retomando um desiderato antigo da enciclopédia (reunir todo o conhecimento humano disponível), em parte refundando a epistemologia, tornada a agora de acesso generalizado.



II. UTOPIAS E UTOPISMOS



Dispensando teorizações mais complexas, entendo por utopia a criação constante na história humana de mundos alternativos que, embora irrealizáveis (são idealizações), fazem parte da realidade em sentido negativo: são fonte permanente do questionamento do que aí está. Por exemplo, aquela cidadania perfeita, na qual todos se organizam e participam, e controlam eximiamente os mandantes, não existe na prática, mas dela retiramos a força para continuar lutando por cidadanias mais qualitativas. Entendo por utopismo a pretensão descabida, em geral ditatorial, de implantar utopias na prática, como, por exemplo, tratar a todos de modo perfeitamente igual. O resultado ditatorial é que, desconhecendo as diferenças, trata-se de modo igual gente diferente, redundando em injustiças ainda maiores. Faz parte do utopismo também considerar situações históricas como ideais, obscurecendo sua relatividade e incompletude, servindo como exemplo recorrente a expectativa vastamente proclamada nos Estados Unidos de melhor democracia do mundo (Friedman, 2005).

A wikipedia guarda uma utopia notável, maravilhosa, sensacional e que galvaniza milhões de contribuintes, mas vira utopismo, quando se apresenta como modelo cabal de enciclopédia ou ignora suas ambigüidades na construção e institucionalização do projeto. Longe de uma comunidade apenas orientada pela cooperação de boa fé, ela oferece o espetáculo dantesco de vandalismo insistente e de disputas dramáticas por poder, mostrando que rivalidades a constituem também. O abate da autoridade é slogan retórico e serve para encobrir entendimento conveniente (farsante) do exercício do poder. Se Foucault estivesse vivo, iria divertir-se às gargalhadas com tais ambigüidades, por mais que se possa criticá-lo de obsessão demasiada pelo tema e principalmente pela pretensão de monopólio do espírito crítico (O’Neil, 2009:72-73. Spariosu, 2005; 2006). De certo modo, o fez Bourdieu (1999), com percepção aguçada da dominação em sociedade e suas artimanhas. De fato, ainda que não seja o caso transformar poder em obsessão analítica, como ocorreria em sociologia (Demo, 1973; 1988), não se escapa de reconhecer que é tema sufocante. Se não gostamos do tom de certa “defesa” da autoridade legítima em Weber (1978), porque nos atrai o canto da sereia da comunidade sem autoridade, uma percepção (mais) realista do processo de socialização sugere que poder faz parte da “estrutura” social das sociedades conhecidas. Na “dialética histórico-estrutural” (Demo, 1995), tento compor esta ambigüidade angustiante para a análise sociológica: de um lado, sociedade é dinâmica histórica, tanto por ser parte da natureza sempre em vir-a-ser, como por ser parte de fenômenos históricos, todos marcados pela passagem, provisoriedade, incompletude. Isto permite asseverar que poder é sempre dinâmica natural e histórica: periclitante, temerosa e temerária, sujeita a mudanças constantes, nunca completa e definitiva. Todos os poderosos passam, mesmo que durem muito, também expressões multimilenares como o patriarcalismo. De outro lado, poder é parte da estrutura da sociedade, um dos componentes recorrentes de suas dinâmicas, um dos pilares em torno dos quais as dinâmicas se fazem e desfazem.

Teorias do caos estruturado (Demo, 2002) sugerem que mesmo uma dinâmica caótica revela alguma estrutura: toda dinâmica apresenta recorrências e que são mais bem estudadas pela ciência que, por conta do método, aprecia o que é invariante nas dinâmicas; acaba estudando o que não é dinâmico nas dinâmicas (Massumi, 2002). Na natureza e na história há modos de ser e modos de vir-a-ser, o que permite teorizar sobre regularidades ou recorrências, ainda que este ordenamento, como diz sarcasticamente Foucault (2000), seja produto mental. Esta percepção permite engolir que poder é uma das estruturas sociais com as quais sempre nos deparamos, sendo mais ajuizado partir dele do que prometer sua extinção, até porque analistas ou revolucionários que assim procedem (querem acabar com o poder) sempre morrem antes. Este reconhecimento é arriscado, porque facilmente pode desandar em promoção do poder, tomando-o como imutável, intocável. É preciso, então, segurar nas mãos duas rédeas dialéticas – histórica e estrutural – para podermos cavalgar uma dinâmica complexa não linear de maneira mais aproximadamente realista.

Os wikipedianos facilmente se enrolam em discursos utopistas e salvacionistas, conduzidos por pretensões utópicas em si interessantes. É fenômeno de rara beleza a interatividade na internet, na qual todas as relações e clivagens parecem “aplanar-se” (Friedman, 2004), e que proporcionou chance incrível de construção de conhecimento a infinitas mãos. A participação de todos (desde que tenham computador e internet!) representa a “riqueza das redes” (Benkler, 2006) e um estilo de sociedade “informacional” (Castells, 1997) que pode abrir grandes avenidas para processos participativos legítimos e produtivos. A isto acresce a devoção da geração net, marcantemente embasbacada com o mundo virtual e que lhe faz parte cada vez mais, sem volta (Tapscott, 2009. Winograd & Hais, 2008), introduzindo em suas vidas estilos alternativos de cooperação em grande dimensão. A questão é não perder de vista a montanha de problemas que também arranjamos, seja porque a internet é igualmente um “lixão”, seja porque é bem possível estar só na multidão virtual, seja porque, entre interações positivas, há outras destrutivas, balançando entre “tecnofilias” e “tecnofobias” (Demo, 2009a). Como o mundo virtual é tramado por dinâmicas ambíguas e dialéticas, não cabe só apreciar ou só detestar, mas tomar como unidade de contrários. A wikipedia declama, naturalmente, suas virtudes, em nome de suas utopias, mas tende a ignorar impasses, contradições, tumultos, para fazer boa figura, por vezes em flagrante hipocrisia. Poder abriga tendências hipócritas incontidas, porque precisa aparentar – para os incautos – que só quer seu bem. Seus líderes carismáticos, ironicamente chamados de “ditadores benevolentes”, facilmente extrapolam todas as expectativas democráticas e comunitárias ao permanecerem no poder de maneira mais ou menos vitalícia e incontestada, provocando em seus liderados relações histéricas. Este fenômeno facilmente recorrente já seria suficiente para indicar o quanto a prática está distante da teoria, já que se trata de comunidades por vezes muito produtivas, empenhadas e comprometidas numa obra comum, mas manietadas a alinhamentos inacreditavelmente rígidos[3].

Quando se ignora o poder, faz-se apenas o que os poderosos querem. A natureza, no entanto, insinuaria que seria viável imaginar um estilo de autoridade libertadora, à la Paulo Freire (1997) e que faria parte da “pedagogia”: todo professor é autoridade, mesmo que não queira assim ser visto; todavia, a pode exercer de modo que fomente a formação da autonomia de seus alunos. A sociologia da educação é propensa a ridicularizar esta expectativa (Demo, 2004. Bourdieu & Passeron, 1975), em uníssono com Foucault (2007), porque tende a ressaltar seu lado socializador, domesticador. No entanto, o que a sociologia empurra para um canto (reprodução), a natureza parece realocar em certo meio termo: todo ser vivo nasce em ambiente de dependência aguda, fatal, de seus procriadores, mas, convivendo com eles e com a realidade circundante, constroem oportunidades de autonomia e que eclodem, com o tempo, na urgência de vida própria. Assim, estaria inscrita na mente do ser vivo esta ambigüidade dialética: precisamos de autoridade que fomente a autonomia e precisamos de autonomia que se compatibilize com autoridade. Toda situação de dependência clama por autonomia; toda situação de autonomia implica dependência. Ocorre que, por laivo sociológico, tendemos a estigmatizar o lado perverso da autoridade, também para reagir à visão weberiana entendida por muitos como um preito à autoridade (Demo, 1973). Dialeticamente falando, poder é dinâmica dialética, ambígua, contraditória, na qual há dois lados sempre, mesmo que um deles experimente condição de submissão profunda. O lado de baixo não é descartável, secundário, mas integrante da unidade de contrários. Tanto é assim que é possível, dependendo das circunstâncias e do saber pensar dos dominados, mudar a situação: é sempre cabível o poderoso perder o poder. Esta abertura intrínseca de dinâmicas dialéticas, no entanto, precisa ser balanceada com a possibilidade não menos comum de o novo poderoso ser ainda mais virulento que o anterior. Toda crítica do poder postula poder!

Esta condição parece clamorosamente típica da wikipedia. Seus discursos libertários do software livre, da produção cooperativa, da interação desimpedida, do abate da autoridade acabam produzindo uma cortina de fumaça para encobrir o quanto contribui para justificar o mercado liberal, a reconstrução de alinhamentos autoritários internos, a solidificação de burocracias renitentes, a ideologia da liberdade cerceada. É impressionante como a wikipedia em apenas oito anos de existência passou de uma comunidade onde todos podem editar sem peias, a outra repleta de regras e hierarquias, caminhando – assim parece – rumo a textos cada vez mais protegidos, talvez já finais, ou seja, não mais abertos à edição por todos. A metáfora do “ditador benevolente”, ainda que honrada por exemplos edificantes (Wales, em especial), torna-se sarcasmo gritante face às confusões crescentes e tumultuadas no interior dessas comunidades que, a par da obra comum, luta-se por ocupação de espaços, por vezes desonestamente. Interessa-me aqui comentar a utopia do texto sempre aberto, uma das mais atraentes e brilhantes da wikipedia.

Considero esta visão uma das mais fascinantes da wikipedia, pois apanha em cheio a dinâmica disruptiva do conhecimento, que não é pacote, mera informação, coisa armazenada, mas gesto incessante de desconstrução e reconstrução. Apanha igualmente a energia infindável e profunda, suave e forte, da autoridade do argumento que, ao apresentar-se, constitui uma “força sem força”. É o tipo da autoridade não autoritária, porque sua autoridade é de mérito do argumento mais bem fundamentado, tão bem fundamentado que pode sempre ser reconstruído. Inicialmente pelo menos, a wikipedia tinha esta visão de seus textos: em progresso infindável, sem formato final, aberto à reconstrução de todos sem peias. Este estilo de “fundamento sem fundo” (Demo, 2008) elabora uma expectativa dialética da produção de conhecimento que contrasta ostensivamente com outras inseridas na wikipedia de teor modernista e positivista, tal qual a noção de enciclopédia como guarda do conhecimento disponível, ou de neutralidade de sua produção pelos contribuintes, ou de verificabilidade dos conteúdos dos textos. A noção de conhecimento como dinâmica desconstrutiva/reconstrutiva é traída aí em nome de um estilo estabilizado, congelado e definitivo que já se poderia “preservar”. Enquanto na promessa dialética “todos podem editar livremente” se promovem textos sempre abertos e que encontram nesta abertura uma de suas qualidades mais marcantes, nos procedimentos metodológicos esta dinâmica acaba aprisionada por estruturações reativas. Uma coisa é entender enciclopédia como repositório do que já se fez – por isso, não cabe pesquisa original, mas compilar o que está disponível –, outra coisa é entender como referência de incessante reconstrução do conhecimento, na qual o repositório disponível é infinitamente recriado. Esta talvez tenha sido a maior novidade e invenção. Mesmo que não caiba pesquisa original, por alguma razão que não alcanço perceber, todos os textos são expressão viva de processos interpretativos, re-interpretativos, contra-interpretativos, tal qual o “remix” da internet (Weinberger, 2007. Latterell, 2006). A wikipedia seria uma fábrica em funcionamento 24 horas por dia, 365 dias por ano, não um mausoléu. Quando menos, isto desvela outra marca brilhante: os textos seriam atualizados naturalmente na própria dinâmica de sua reconstrução sem fim.

Mas há outra maravilha: se todos os textos estão sempre abertos à reconstrução de todos, o texto que mais chance teria de merecer a atenção seria aquele mais bem argumentado, sem que daí decorresse qualquer formatação definitiva. Seria apenas menos provisório, porque deteria melhor fundamentação. Considero esta face uma propriedade pedagógica inestimável, porque, como diria Habermas, na esfera pública democrática e eticamente estruturada, vale a “força sem força do melhor argumento” (1989). Como não cabe o argumento de autoridade, nem qualquer imposição autoritária, ser ouvido só poderia ser questão de mérito de quem se faz ouvir, não gritando, vociferando, agredindo, ofendendo, mas argumentando. O texto que desfila pela passarela com maior consistência e permanência seria, naturalmente, aquele que merecesse este respeito da comunidade. Este tipo de texto particularmente qualitativo não reivindica nenhuma permanência estável, muito menos definitiva, mas a comunidade o muda dentro do mesmo contexto de profundidade e acuidade, porque a uma obra prima cabe reconstrução como obra prima também. Assim ocorre com teorias importantes: todas são incompletas, datadas e localizadas, mas algumas sobrevivem aos tempos, merecendo a atenção por conta de sua qualidade. São reconstruídas também, porque isto é do negócio, mas suas reconstruções precisam deter qualidade similar. Textos irrelevantes atraem mudanças irrelevantes, ou permanecem estáveis porque não merecem atenção.

Com o tempo, porém, a wikipedia foi cansando de tanta reconstrução de textos, levada igualmente pelos azares do vandalismo, ao lado do concurso de amadores com pouca qualificação. A tentação do texto definitivo retorna com força, em parte porque alguns textos podem ser tão bem feitos que poderiam permanecer assim por algum tempo, mas em parte por subordinação positivista a um estilo de produção que foge de ser discutida. À medida que a wikipedia se aproxima do formato tradicional, inclina-se a repetir o mesmo modelo de conhecimento, perdendo sua dinâmica disruptiva. Chocam-se aí dois mundos acadêmicos: um mais moderno, movido pela expectativa do conhecimento formalista e estável, capaz de dar conta da realidade assim como ela é; outro pós-moderno, impulsionado pela dinâmica complexa não linear de elaborações sempre abertas, cuja validade é relativa, datada e localizada, mas em permanente reconstrução. A energia disruptiva da wikipedia parece estar se cansando...

Não estou aqui procurando uma “solução” (unidade de contrários não é solúvel), mas uma acomodação dialética, possivelmente mais realista. De um lado, há que se respeitar a proposta utópica de crítica cerrada ao poder, mesmo do poder legítimo. Como sugere Boehm (1999) em sua análise de povos “primitivos” (da época nômade), “falar mal dos poderosos” é obrigação cívica, para evitar que o poder lhes suba à cabeça. O próprio poder legítimo, sem crítica cerrada debaixo para cima, tende a amealhar privilégios, porque a tentação é quase irresistível. De outro, estão dinâmicas de poder que, além de componentes naturais e legítimos, poderiam ser vistas como “pedagógicas”, porque envolvidas no processo de formação da autonomia. Poderíamos ver isso, com devida cautela, na liderança de Wales na wikipedia: embora a noção de “ditador benevolente” já seja suficientemente sarcástica, sua presença possui faces muito positivas, responsáveis em parte pelo êxito da empreitada. Ainda assim, não posso deixar de reconhecer que “defender poder” é quase sempre um suicídio.

Continua na parte 2
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