quarta-feira, 11 de novembro de 2009

CONHECIMENTO REBELDE E ENQUADRADO - Pedro Demo (parte 4-final)

Leia também a parte 1, a parte 2 e a parte 3

CONCLUINDO

A wikipedia mantém chefes carismáticos (O’Neil, 2009), em particular Wales, como referência indiscutível, à revelia da declamação pomposa de produção livre e igualitária. Passo a passo, o projeto foi sendo engessado burocraticamente, em parte por necessidade de organização e qualificação dos textos, em parte para superar vandalismos de toda ordem, em parte por disputas de poder. Não parece longe a possibilidade de se instaurar textos “definitivos”, que já não se poderiam editar mais, em nome de metodologias enrijecidas. Já não se aceitam mais textos anônimos. A idéia original de contar com o bom caráter dos editores está bastante arranhada, porque, embora valendo como princípio salutar de convivência, na prática tornou os textos vulneráveis em excesso. Aí parece haver uma disjuntiva: ou se mantém o compromisso original de que “todos podem editar”, deixando os textos sempre abertos, ou se avança na direção oposta de estabilizar produtos em nome da expertise. Penso que a wikipedia não deveria desfigurar-se para se tornar mais uma enciclopédia, entre tantas. Seu charme maior está no cultivo de um ambiente de produção rebelde de conhecimento, ainda que mais da ordem da “compilação” (remix). Por isso, também, não deveria pretender substituir outros projetos, mas apresentar-se como alternativa pertinente, o que, sem dúvida, continua sendo.

O abuso da liberdade não pode descambar para sua supressão. A wikipedia, mal ou bem, mostra que consensos negociados são possíveis, desde que mantidos como propostas abertas. Isto suscita a preferência pela autoridade do argumento, da qual vive a cidadania que sabe pensar. Finalmente, saber pensar desceu à terra, porque, “todos podendo editar”, tornou-se viável também para pessoas não especialistas. Deveria, porém, rever pretensões ineptas de “neutralidade” ou coisa parecida, porque isto a torna tanto mais exposta e contraditória. Os textos não são, nem de longe, “neutros”, mas disputados dentro de regras de jogo igualitárias. Em vez de alinhar os editores, seria mais interessante ensaiar um pedagogia de rivalidades éticas e produtivas, em nome do bem comum...


BIBLIOGRAFIA

A Vision of Students Today (Video). 2009. http://br.youtube.com/watch?v=dGCJ46vyR9o
ALESSO, H.P. & SMITH, C.F. 2009. Thinking on the Web - Berners-Lee, Gödel and Turing. Wiley, New York.

ANDREW, A.M. 2009. A Missing Link in Cybernetics – Logic and continuity. Springer, New York.
ARRIGHI, G. 1996. O Longo Século XX. Ed. UNESP, São Paulo.

BARTHES, R. 1968. A Morte do Autor. http://www.facom.ufba.br/sala_de_aula/sala2/barthes1.html
BAUERLEIN, M. 2008. The Dumbest Generation: How the Digital Age Stupefies Young Americans and Jeopardizes Our Future (Or, Don't Trust Anyone Under 30). Tarcher, New York.

BENKLER, Y. 2006. The Wealth of Networks - How social production transforms markets and freedom. Yale Univ. Press, New York.
BOURDIEU, P. & PASSERON, J.C. 1975. A Reprodução - Elementos para uma teoria do sistema educativo. Francisco Alves, Rio de Janeiro.

BURKE, P. 2003. Uma História Social do Conhecimento – De Gutenberg a Diderot. Zahar Editores, Rio de Janeiro.
CASTELLS, M. 1997. The Rise of the Network Society - The information age: Economy, society and culture. Vol. I. Blackwell, Oxford.

COLLINS, R. 1998. The Sociology of Philosophies – A global theory of intellectual change. The Belknap Press of Harvard University Press, Cambridge, Massachusetts.
DARDER, A., BALTODANO, M.P., TORRES, R.D. (Eds.). 2009. The Critical Pedagogy Reader. Routledge, London.

DAWKINS, R. 1998. The Selfish Gene. Oxford University Press, Oxford.
DEMO, P. 1973. Herrschaft und Geschichte – Zur politischen Gesellschaftstheorie Freyers und Marcuses. Anton Hain Verlag, Meisenheim.

DEMO, P. 1982. Intelectuais e Vivaldinos - Da crítica acrítica, São Paulo, ALMED.
DEMO, P. 1988. Ciência, Ideologia e Poder - Uma sátira às ciências sociais, São Paulo, Atlas.

DEMO, P. 1994. Pesquisa e Construção do Conhecimento – Metodologia científica no caminho de Habermas. Tempo Brasileiro, Rio de Janeiro.
DEMO, P. 1995. Metodologia Científica em Ciências Sociais. Atlas, São Paulo.

DEMO, P. 2000. Metodologia do Conhecimento Científico. Atlas, São Paulo.
DEMO, P. 2000b. Certeza da Incerteza. Plano, Brasília.

DEMO, P. 2002. Complexidade e Aprendizagem – A dinâmica não linear do conhecimento. Atlas, São Paulo.
DEMO, P. 2004. Sociologia da Educação – Sociedade e suas oportunidades. LiberLivro, Brasília.

DEMO, P. 2005. Argumento de Autoridade X Autoridade do Argumento. Tempo Brasileiro, Rio de Janeiro.
DEMO, P. 2005a. Éticas Multiculturais - Sobre convivência humana possível. Vozes, Petrópolis.

DEMO, P. 2007. Pobreza Política – A pobreza mais intensa da pobreza brasileira. Autores Associados, Campinas.
DEMO, P. 2008. Fundamento sem Fundo. Tempo Brasileiro, Rio de Janeiro.

DEMO, P. 2009. Não vemos as coisas como são, mas como somos. http://pedrodemo.sites.uol.com.br/textos/comosomos.html
DEMO, P. 2008a. Metodologia para quem quer aprender. Atlas, São Paulo.

DEMO, P. 2009a. “Tecnofilia” & “Tecnofobia”. In: Boletim Técnico do Senac, V. 35, N. 1, jan./abr., p. 5-17.
DEMO, P. 2009b. Saber Pensar É Questionar. LiberLivro, Brasília.

DEMO, P. 2009c. Qualidade Humana. Autores Associados, Campinas.
EDELMAN, G.M./TONONI, G. 2000. A Universe of Consciousness – How matter becomes imagination. Basic Books, New York.

FEYERABEND, P. 1977. Contra o Método. Francisco Alves, Rio de Janeiro.
FOUCAULT, M. 2000. A Ordem do Discurso. Loyola, São Paulo.

FOUCAULT, M. 2004. A Hermenêutica do Sujeito. Martins Fontes, São Paulo.
FOUCAULT, M. 2007. Vigiar e Punir. Vozes, Petrópolis.

FRASER, N. 1992. Rethinking the Public Sphere: A contribution to the critique of actually existing democracy. In: Calhoun, G. (Ed.), 1992. The MIT Press, Massachusetts, p. 109-142.
FREIRE, P. 1997. Pedagogia da Autonomia – Saberes necessários à prática educativa. Paz e Terra, Rio de Janeiro.

FREIRE, P. 2006. Pedagogia do Oprimido. Paz e Terra, Rio de Janeiro.
FREITAG, B. 2005. Dialogando com Jürgen Habermas. Tempo Brasileiro, Rio de Janeiro.

FRIEDMAN, T.L. 2005. O Mundo é Plano - Uma breve história do século XXI. Objetiva, Rio de Janeiro.
GADAMER, H.-G. 1997. Verdade e Método – Traços fundamentais de uma hermenêutica filosófica. Vozes, Petrópolis.

GARDNER, J. 2007. The Intelligent Universe - AI, ET, and the Emerging Mind of the Cosmos. New Page Books, Franklin Lakes.
GIERE, R.N. 1999. Science Without Laws. The University of Chicago Press, Chicago.

GIROUX, H.A. 2009. Critical Theory and Educational Practice. In: Darder, A., Baltodano, M.P., Torres, R.D. (Eds.). 2009. The Critical Pedagogy Reader. Routledge, London, p. 27-51.
GOULD, S.J. 2002. The Structure of Evolutionary Theory. The Belknap Press of Harvard Univ., Cambridge (MA).

GROSSI, E. P. 2004. Por aqui ainda há quem não aprende? Paz e Terra, Rio de Janeiro.
HAACK, Susan. 2003. Defending Science within reason – Between scientism and cynicism. Prometheus Books, New York.

HABERMAS, J. 1989. Consciência Moral e Agir Comunicativo. Tempo Brasileiro, Rio de Janeiro.
HOBSBAWM, E. 1995. Era dos Extremos – O breve século XX – 1914-1991. Companhia das Letras, São Paulo.

JENSEN, H.J. 1998. Self-Organized Criticality - Emergent complex behavior in physical and biological systems. Cambridge University Press.
JOHNSON, Steve. 2001. Emergence – The connected lives of ants, brains, cities, and software. Simon & Shuster, New York.

HOLLAND, J.H. 1998. Emergence – From chaos to order. Helix Books, Massachusetts.
HOLLOWAY, John. 2003. Mudar o Mundo Sem Tomar o Poder. Viramundo, São Paulo.

HOWE, J. 2009. Crowdsourcing: Why the power of the crowd is driving the future of business. The Three Rivers Press, New York.
KEEN, A. 2007. The Cult of the Amateur. Nicholas Brealey Publishing, London.

KUHN, T.S. 1975. A Estrutura das Revoluções Científicas. Ed. Perspectiva, São Paulo.
KURZWEIL, R. 2005. The Singularity Is Near - When humans transcend biology. Viking, New York.

LATTERELL, C.G. 2006. Remix - Reading + composing culture. Bedford/St. Martin’s, New York.
LEWIS, T., AMINI, F., LANNON, R. 2000. A General Theory of Love. Random House, New York.

LIH, A. 2009. The Wikipedia Revolution. Hyperion, New York.
MASSUMI, B. 2002. Parables for the Virtual - Movement, affect, sensation. Duke University Press, London.

MATURANA, H. 2001. Cognição, Ciência e Vida Cotidiana. Organização de C. Magro e V. Paredes. Ed. Humanitas/UFMG, Belo Horizonte.
MOROWITZ, H.J. 2002. The Emergence of Everything. Oxford University Press, Oxford.

NATURE’S RESPONSE TO ENCYCLOPEDIA BRITANNICA. N.d. http://www.nature.com/nature/britannica/index.html O’NEIL, M. 2009. Cyber Chiefs - Autonomy and authority in online tribes. Pluto Press, New York.
PLANT, S. 1999. Mulher Digital - O feminino e as novas tecnologias. Editora Rosa dos Tempos, Rio de Janeiro.

PORTOCARRERO, V. (Org.). 1994. Filosofia, História e Sociologia das Ciências – Abordagens Contemporâneas. Ed. FIOCRUZ, Rio de Janeiro.
RESCHER, N. 1987. Forbidden Knowledge: And other essays of the philosophy of cognition (Episteme, Vol 13). D. Reidl Publisher Co., Dordrecht.

RHEINGOLD, H. 2002. Smart Mobs - The next social revolution. Basic Books, New York.
SANTOS, B.S. & MENESES, M.P. (Orgs.). 2009. Epistemologia do Sul. Almeida, Portugal.

SANTOS, B.S. 1995. Toward a New Common Sense – Law, science and politics in the paradigmatic transition. Routledge, New York.

SANTOS, B.S. 2004. Conhecimento Prudente para uma Vida Decente – “Um discurso sobre as Ciências” revisitado. Cortez, São Paulo.
SANTOS, B.S. (Org.). 2009. As Vozes do Mundo. Civilização Brasileira, Rio de Janeiro.SHATTUCK, R. 1996. Forbidden Knowledge – From Prometheus to pornography. St. Martin’s Press, New York.

SPARIOSU, M.I. 2005. Global Intelligence and Human Development - Toward an ecology of global learning. The MIT Press, Massachusetts.
SPARIOSU, M.I. 2006. Remapping Knowledge - Intercultural studies for a global age. Bergham Books, New York.

TAPSCOTT, D. & WILLIAMS, A.D. 2007. Wikinomics - How mass collaboration changes everything. Penguin, London.
TAPSCOTT, D. 2009. Growing Up Digital - How the net generation is changing your world. McGraw Hill, New York. WEINBERGER, D. 2007. Everything Is Miscellaneous - The power of the new digital disorder. Times Book, New York.

WEBER, M. 1978. Economy and Society. University of California Press.
WIKIPEDIA. 2009. Wikipedia, a Enciclopédia libre. http://pt.wikipedia.org/wiki/P%C3%A1gina_principal

WINOGRAD, M. & HAIS, M.D. 2008. Millennial Makeover - MySpace, YouTube & the Future of American Politics. Rutgers University Press, London.
WOLFRAM, W. 2002. A New Kind of Science. Wolfram Media, Champaign, IL
WRIGHT, R. 2000. Non Zero – The logic of human destiny. Pantheon Books, New York.

Inté mais

Nenhum comentário: